quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Portugal à lupa

Mais um excelente artigo de Miguel Sousa Tavares publicado no Expresso (Segunda-feira, 29 de Jun de 2009 )

Segunda-feira passada, a meio da tarde, faço a A-6, em direcção a Espanha e na companhia de uma amiga estrangeira; quarta-feira de manhã, refaço o mesmo percurso, em sentido inverso, rumo a Lisboa.
Tanto para lá como para cá, é uma auto-estrada luxuosa e fantasma. Em contrapartida, numa breve incursão pela estrada nacional, entre Arraiolos e Borba, vamos encontrar um trânsito cerrado, composto esmagadoramente por camiões de mercadorias espanhóis.
Vinda de um país onde as auto-estradas estão sempre cheias, ela está espantada com o que vê:

- É sempre assim, esta auto-estrada?

- Assim, como?

- Deserta, magnífica, sem trânsito?

- É, é sempre assim.

- Todos os dias?

- Todos, menos ao domingo, que sempre tem mais gente.

- Mas, se não há trânsito, porque a fizeram?

- Porque havia dinheiro para gastar dos Fundos Europeus, e porque diziam que o desenvolvimento era isto.

- E têm mais auto-estradas destas?

- Várias e ainda temos outras em construção: só de Lisboa para o Porto, vamos ficar com três. Entre S. Paulo e o Rio de Janeiro, por exemplo, não há nenhuma: só uns quilómetros à saída de S. Paulo e outros à chegada ao Rio. Nós vamos ter três entre o Porto e Lisboa: é a aposta no automóvel, na poupança de energia, nos acordos de Quioto, etc. - respondi, rindo-me.

- E, já agora, porque é que a auto-estrada está deserta e a estrada nacional está cheia de camiões?

- Porque assim não pagam portagem.

- E porque são quase todos espanhóis?

- Vêm trazer-nos comida.

- Mas vocês não têm agricultura?

- Não: a Europa paga-nos para não ter. E os nossos agricultores dizem que produzir não é rentável.

- Mas para os espanhóis é?

- Pelos vistos...

Ela ficou a pensar um pouco e voltou à carga:

- Mas porque não investem antes no comboio?

- Investimos, mas não resultou.

- Não resultou, como?

- Houve aí uns experts que gastaram uma fortuna a modernizar a linha Lisboa-Porto, com comboios pendulares e tudo, mas não resultou.

- Mas porquê?

- Olha, é assim: a maior parte do tempo, o comboio não 'pendula'; e, quando 'pendula', enjoa de morte. Não há sinal de telemóvel nem Internet, não há restaurante, há apenas um bar infecto e, de facto, o único sinal de 'modernidade' foi proibirem de fumar em qualquer espaço do comboio. Por isso, as pessoas preferem ir de carro e a companhia ferroviária do Estado perde centenas de milhões todos os anos.

- E gastaram nisso uma fortuna?

- Gastámos. E a única coisa que se conseguiu foi tirar 25 minutos às três horas e meia que demorava a viagem há cinquenta anos...

- Estás a brincar comigo!

- Não, estou a falar a sério!

- E o que fizeram a esses incompetentes?

- Nada. Ou melhor, agora vão dar-lhes uma nova oportunidade, que é encherem o país de TGV: Porto-Lisboa, Porto-Vigo, Madrid-Lisboa... e ainda há umas ameaças de fazerem outro no Algarve e outro no Centro.

- Mas que tamanho tem Portugal, de cima a baixo?

- Do ponto mais a norte ao ponto mais a sul, 561 km.Ela ficou a olhar para mim, sem saber se era para acreditar ou não.

- Mas, ao menos, o TGV vai directo de Lisboa ao Porto?

- Não, pára em várias estações: de cima para baixo e se a memória não me falha, pára em Aveiro, para os compensar por não arrancarmos já com o TGV deles para Salamanca; depois, pára em Coimbra para não ofender o prof. Vital Moreira, que é muito importante lá; a seguir, pára numa aldeia chamada Ota, para os compensar por não terem feito lá o novo aeroporto de Lisboa; depois, pára em Alcochete, a sul de Lisboa, onde ficará o futuro aeroporto; e, finalmente, pára em Lisboa, em duas estações.

- Como: então o TGV vem do Norte, ultrapassa Lisboa pelo sul, e depois volta para trás e entra em Lisboa?

- Isso mesmo.

- E como entra em Lisboa?

- Por uma nova ponte que vão fazer.

- Uma ponte ferroviária?

- E rodoviária também: vai trazer mais uns vinte ou trinta mil carros todos os dias para Lisboa.

- Mas isso é o caos, Lisboa já está congestionada de carros!

- Pois é.

- E, então?

- Então, nada. São os especialistas que decidiram assim.Ela ficou pensativa outra vez. Manifestamente, o assunto estava a fasciná-la.

- E, desculpa lá, esse TGV para Madrid vai ter passageiros? Se a auto-estrada está deserta...

- Não, não vai ter.

- Não vai? Então, vai ser uma ruína!

- Não, é preciso distinguir: para as empresas que o vão construir e para os bancos que o vão capitalizar, vai ser um negócio fantástico! A exploração é que vai ser uma ruína - aliás, já admitida pelo Governo - porque, de facto, nem os especialistas conseguem encontrar passageiros que cheguem para o justificar.

- E quem paga os prejuízos da exploração: as empresas construtoras?

- Naaaão! Quem paga são os contribuintes! Aqui a regra é essa!

- E vocês não despedem o Governo?

- Talvez, mas não serve de muito: quem assinou os acordos para o TGV com Espanha foi a oposição, quando era governo...

- Que país o vosso! Mas qual é o argumento dos governos para fazerem um TGV que já sabem que vai perder dinheiro?

- Dizem que não podemos ficar fora da Rede Europeia de Alta Velocidade.

- O que é isso? Ir em TGV de Lisboa a Helsínquia?

- A Helsínquia, não, porque os países escandinavos não têm TGV.

- Como? Então, os países mais evoluídos da Europa não têm TGV e vocês têm de ter?

- É, dizem que assim entramos mais depressa na modernidade.Fizemos mais uns quilómetros de deserto rodoviário de luxo, até que ela pareceu lembrar-se de qualquer coisa que tinha ficado para trás:

- E esse novo aeroporto de que falaste, é o quê?

- O novo aeroporto internacional de Lisboa, do lado de lá do rio e a uns 50 quilómetros de Lisboa.

- Mas vocês vão fechar este aeroporto que é um luxo, quase no centro da cidade, e fazer um novo?

- É isso mesmo. Dizem que este está saturado.

- Não me pareceu nada...

- Porque não está: cada vez tem menos voos e só este ano a TAP vai cancelar cerca de 20.000. O que está a crescer são os voos das low-cost, que, aliás, estão a liquidar a TAP.

- Mas, então, porque não fazem como se faz em todo o lado, que é deixar as companhias de linha no aeroporto principal e chutar as low-cost para um pequeno aeroporto de periferia? Não têm nenhum disponível?

- Temos vários. Mas os especialistas dizem que o novo aeroporto vai ser um hub ibérico, fazendo a trasfega de todos os voos da América do Sul para a Europa: um sucesso garantido.

- E tu acreditas nisso?

- Eu acredito em tudo e não acredito em nada. Olha ali ao fundo: sabes o que é aquilo?

- Um lago enorme! Extraordinário!

- Não: é a barragem de Alqueva, a maior da Europa.

- Ena! Deve produzir energia para meio país!

- Praticamente zero.

- A sério? Mas, ao menos, não vos faltará água para beber!

- A água não é potável: já vem contaminada de Espanha.

- Já não sei se estás a gozar comigo ou não, mas, se não serve para beber, serve para regar - ou nem isso?

- Servir, serve, mas vai demorar vinte ou mais anos até instalarem o perímetro de rega, porque, como te disse, aqui acredita-se que a agricultura não tem futuro: antes, porque não havia água; agora, porque há água a mais.

- Estás a dizer-me que fizeram a maior barragem da Europa e não serve para nada?

- Vai servir para regar campos de golfe e urbanizações turísticas, que é o que nós fazemos mais e melhor. Apesar do sol de frente, impiedoso, ela tirou os óculos escuros e virou-se para me olhar bem de frente:

- Desculpa lá a última pergunta: vocês são doidos ou são ricos?

- Antes, éramos só doidos e fizemos algumas coisas notáveis por esse mundo fora; depois, disseram-nos que afinal éramos ricos e desatámos a fazer todas as asneiras possíveis cá dentro; em breve, voltaremos a ser pobres e enlouqueceremos de vez.

Ela voltou a colocar os óculos de sol e a recostar-se para trás no assento. E suspirou:

- Bem, uma coisa posso dizer: há poucos países tão agradáveis para viajar como Portugal! Olha-me só para esta auto-estrada sem ninguém!

domingo, 28 de junho de 2009

Pensamento criativo /divergente

Do You Recognize These 10 Mental Blocks to Creative Thinking?
by Brian Clark


Whether you’re trying to solve a tough problem, start a business, get attention for that business or write an interesting article, creative thinking is crucial. The process boils down to changing your perspective and seeing things differently than you currently do.
People like to call this “thinking outside of the box,” which is the wrong way to look at it. Just like Neo needed to understand that “there is no spoon” in the film The Matrix, you need to realize “there is no box” to step outside of.

You create your own imaginary boxes simply by living life and accepting certain things as “real” when they are just as illusory as the beliefs of a paranoid delusional. The difference is, enough people agree that certain man-made concepts are “real,” so you’re viewed as “normal.” This is good for society overall, but it’s that sort of unquestioning consensus that inhibits your natural creative abilities.

So, rather than looking for ways to inspire creativity, you should just realize the truth. You’re already capable of creative thinking at all times, but you have to strip away the imaginary mental blocks (or boxes) that you’ve picked up along the way to wherever you are today.
I like to keep this list of 10 common ways we suppress our natural creative abilities nearby when I get stuck. It helps me realize that the barriers to a good idea are truly all in my head.

1. Trying to Find the “Right” Answer

One of the worst aspects of formal education is the focus on the correct answer to a particular question or problem. While this approach helps us function in society, it hurts creative thinking because real-life issues are ambiguous. There’s often more than one “correct” answer, and the second one you come up with might be better than the first.
Many of the following mental blocks can be turned around to reveal ways to find more than one answer to any given problem. Try reframing the issue in several different ways in order to prompt different answers, and embrace answering inherently ambiguous questions in several different ways.

2. Logical Thinking

Not only is real life ambiguous, it’s often illogical to the point of madness. While critical thinking skills based on logic are one of our main strengths in evaluating the feasibility of a creative idea, it’s often the enemy of truly innovative thoughts in the first place.
One of the best ways to escape the constraints of your own logical mind is to think metaphorically. One of the reasons why metaphors work so well in communications is that we accept them as true without thinking about it. When you realize that “truth” is often symbolic, you’ll often find that you are actually free to come up with alternatives.

3. Following Rules

One way to view creative thinking is to look at it as a destructive force. You’re tearing away the often arbitrary rules that others have set for you, and asking either “why” or “why not” whenever confronted with the way “everyone” does things.
This is easier said than done, since people will often defend the rules they follow even in the face of evidence that the rule doesn’t work. People love to celebrate rebels like Richard Branson, but few seem brave enough to emulate him. Quit worshipping rule breakers and start breaking some rules.

4. Being Practical

Like logic, practicality is hugely important when it comes to execution, but often stifles innovative ideas before they can properly blossom. Don’t allow the editor into the same room with your inner artist.
Try not to evaluate the actual feasibility of an approach until you’ve allowed it to exist on its own for a bit. Spend time asking “what if” as often as possible, and simply allow your imagination to go where it wants. You might just find yourself discovering a crazy idea that’s so insanely practical that no one’s thought of it before.

5. Play is Not Work

Allowing your mind to be at play is perhaps the most effective way to stimulate creative thinking, and yet many people disassociate play from work. These days, the people who can come up with great ideas and solutions are the most economically rewarded, while worker bees are often employed for the benefit of the creative thinkers.
You’ve heard the expression “work hard and play hard.” All you have to realize is that they’re the same thing to a creative thinker.

6. That’s Not My Job

In an era of hyper-specialization, it’s those who happily explore completely unrelated areas of life and knowledge who best see that everything is related. This goes back to what ad man Carl Ally said about creative persons—they want to be know-it-alls.
Sure, you’ve got to know the specialized stuff in your field, but if you view yourself as an explorer rather than a highly-specialized cog in the machine, you’ll run circles around the technical master in the success department.

7. Being a “Serious” Person

Most of what keeps us civilized boils down to conformity, consistency, shared values, and yes, thinking about things the same way everyone else does. There’s nothing wrong with that necessarily, but if you can mentally accept that it’s actually nothing more than groupthink that helps a society function, you can then give yourself permission to turn everything that’s accepted upside down and shake out the illusions.
Leaders from Egyptian pharaohs to Chinese emperors and European royalty have consulted with fools, or court jesters, when faced with tough problems. The persona of the fool allowed the truth to be told, without the usual ramifications that might come with speaking blasphemy or challenging ingrained social conventions. Give yourself permission to be a fool and see things for what they really are.

8. Avoiding Ambiguity

We rationally realize that most every situation is ambiguous to some degree. And although dividing complex situations into black and white boxes can lead to disaster, we still do it. It’s an innate characteristic of human psychology to desire certainty, but it’s the creative thinker who rejects the false comfort of clarity when it’s not really appropriate.
Ambiguity is your friend if you’re looking to innovate. The fact that most people are uncomfortable exploring uncertainty gives you an advantage, as long as you can embrace ambiguity rather than run from it.

9. Being Wrong is Bad

We hate being wrong, and yet mistakes often teach us the most. Thomas Edison was wrong 1,800 times before getting the light bulb right. Edison’s greatest strength was that he was not afraid to be wrong.
The best thing we do is learn from our mistakes, but we have to free ourselves to make mistakes in the first place. Just try out your ideas and see what happens, take what you learn, and try something else. Ask yourself, what’s the worst that can happen if I’m wrong? You’ll often find the benefits of being wrong greatly outweigh the ramifications.

10. I’m Not Creative

Denying your own creativity is like denying you’re a human being. We’re all limitlessly creative, but only to the extent that we realize that we create our own limits with the way we think. If you tell yourself you’re not creative, it becomes true. Stop that.
In that sense, awakening your own creativity is similar to the path reported by those who seek spiritual enlightenment. You’re already enlightened, just like you’re already creative, but you have to strip away all of your delusions before you can see it. Acknowledge that you’re inherently creative, and then start tearing down the other barriers you’ve allowed to be created in your mind.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Dulce Pontes: um vendaval numa voz só. BRAVA!!!

Novamente, diz Dulce numa entrevista a propósito do seu último disco "Momentos" e sobre o facto de se sentir reconhecida ou não: "Os espectáculos estão cheios, eu já não me pertenço". De facto, Dulce, já és mais que tu, já fazes parte de mim. Na tua voz eu reconheço a excelência da música, o sobrehumano da existência. És de facto, como bem dizes, "um instrumento de Deus". És Grande.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Dulce Pontes: um vendaval numa voz só. BRAVA!!!


Dulce Pontes lançou novo álbum; chama-se "Momentos" e celebra 20 anos de carreira da cantora. Várias músicas são interpretações notáveis que nos devolvem a grandeza da maior voz portuguesa viva. Sem reticências. Dulce, venham mais 20!




quinta-feira, 9 de abril de 2009

domingo, 15 de fevereiro de 2009

I can dance! / Can you dance?

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

"O Prémio", de Irving Wallace


Apesar de se espraiar por mais de 700 páginas, o livro “O Prémio”, de Irving Wallace, lê-se muito bem. Trata-se de um romance americano escrito em 1961 que se debruça sobre a entrega dos conhecidos e famosos prémios Nobel. O livro começa por descrever com minúcia o ambiente familiar e profissional que envolve as personagens laureadas pelo Prémio naquele ano – que julgamos, por dados fornecidos ao longo do texto, ser os inícios da década de 60 - e só depois a acção se desloca para a capital sueca, Estocolmo, onde essa entrega terá lugar.
Nas primeiras 200 páginas sensivelmente, ficamos a conhecer a vida pessoal e profissional das personagens agraciadas com o Prémio, as suas qualidades e defeitos, as suas vicissitudes pessoais.
Já em Estocolmo, a intriga adensa-se com alguns incidentes que ocorrem durante as iniciativas do programa da “semana do Nobel”. Ficamos a saber da subjectividade e do relativismo no momento de escolher os laureados em anos anteriores e o autor, ao mesmo tempo que analisa esse aspecto, também reabilita a Instituição Nobel, apontando casos positivos.
A cidade e os seus habitantes são caracterizados e alguns preconceitos e estereótipos – ligados ao campo da sexualidade - são desmascarados e postos por vezes em contraste com o que se faz nos Estados Unidos à época.
Ficamos a saber que o marido do casal francês (os Marceau) que ganha o Prémio Nobel da Física trai a mulher devido ao tédio que sente pela vida que leva. Ela vingar-se-á em Estocolmo.
O cientista Stratman, de origem alemã, mas que vive nos Estados Unidos ganha o prémio da Química vive preocupado com a sua frágil saúde e sobretudo com a sobrinha, que sobreviveu aos horrores do regime nazi.
O Dr. John Garrett e o Dr. Carlo Farelli, italiano, ganham em ex-aequo o prémio Nobel da Medicina e o Estocolmo será o palco onde o primeiro deles se irá digladiar com os seus problemas psicológicos e com Carlo Farelli, alegando que este lhe roubara a descoberta que haveria de dar o Prémio aos dois laureados.
O Dr. Craig ganha o Prémio Nobel da Literatura, mas não escreve há 3 anos nada de novo. Isso deve-se ao facto de ele viver com o trauma de ter morto a mulher num acidente de automóvel e de se ter entregue desde então à ingestão indiscriminada de álcool. Vive com a irmã da falecida mulher e é com ela que se desloca a Estocolmo para receber o galardão. É lá e na figura de Emily Stratman, a sobrinha de Max Stratman, que ele encontrará o rumo e o significado para a vida.
A “intriga comunista” - que envolve a sobrinha do cientista Max Stratman e o seu desaparecido pai, Walther Stratman, irmão de Max - serve para dar vazão às perspectivas do autor sobre os regimes que se confrontam na altura da guerra fria. O bloco comunista é confrontado com o mundo ocidental, livre e esta temática surge ainda num dos livros que o laureado com o Prémio da Literatura escreve.
A narrativa ganha progressivamente interesse, tornando-se cada vez mais vertiginosa à medida que se aproxima do final. Há estratégias narrativas adoptadas que são inteligentes e que contribuem para o adensar da intriga. No entanto, a partir de dado momento certos elementos da história tornam-se previsíveis, pois o leitor começa a perceber a mentalidade do escritor e que subjaz à tessitura da narrativa.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Humano e humilde na amarga derrota




Roger Federer perde na final do Open de ténis de Austrália contra Rafael Nadal, a 1 de Fevereiro.

Cunhas...

Não acreditas nesse mito acreditado e nunca visto publicamente chamado cunha?
Pois é, vejo, horrorizado, que estou rodeado delas, de cunhas, cunhados, cunhadas e enteados. Vejo que a inveja é útil e natural quando vejo cunhadas acabadas de cunhar. Vejo a injustiça que é a cunha triunfar sobre a lista dos candidatos, fazendo pouco dela. Afinal, uma lista de candidatos, à espera, é para os outros. Para os que não sabem ou não querem cunha. Aqueles que, contra ventos e marés, querem ter e deixar um cunho próprio, coisa bem diferente dessa coisa chamada cunha. Agonizo perante a afronta, mas sei que um dia o talento e o trabalho triunfarão alcandoradamente do favor e da cunha agradecida.

sábado, 15 de novembro de 2008

A paz

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Postes recentes deste blogue

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Uma boa reflexão sobre a cacofonia mediática, ou a cultura do galinheiro; a solução é mesmo o silêncio, a rolha

O SILÊNCIO É DE OURO


João César das Neves
professor universitário
naohaalmocosgratis@fcee.ucp.pt
Vivemos na era da informação, na sociedade mediática, no tempo da imagem. Não é propriamente novidade. Já cá andamos há tantos anos que talvez fosse altura de aprender a viver com isso. O mais surpreendente é constatar a crescente dificuldade em lidar com aquele mundo em que nascemos. Os disparates e tolices parecem multiplicar-se.

Alguns são caricatos. Por exemplo, temos visto uma sucessão de funcionários públicos superiores atropelarem-se na ânsia de arranjar sarilhos com declarações à imprensa.

O enredo é tão semelhante e ingénuo que faz dó ver como essas eminências não percebem a armadilha antes de lá caírem. Começam por dar longas entrevistas que evidentemente ninguém lê. Surpreende logo que eles acreditem que alguém se interessaria pelas suas doutas opiniões e pomposas revelações.

Mas o que todos lêem são os extractos que a imprensa se encarrega de seleccionar, elaborar e propagandear, os pedaços mais sumarentos, chocantes, comprometedores.

Seguem-se os inevitáveis desmentidos, correcções, apoios do ministro competente, pedidos de exoneração da oposição. Em consequência, aquela tarefa administrativa crucial para o País, que nunca seria favorecida se a entrevista corresse bem, fica dificílima ou até irremediavelmente comprometida após o deslize. Depois, é só esperar uns diazitos e tudo recomeça com outro ingénuo burocrata.

Não há quem cale esses leais servidores do Estado? As gaffes dos ministros são já proverbiais, mas ao menos fazem parte das suas funções.

Um político deve estar preparado para explicar as suas escolhas e prestar contas do caminho a seguir. Mas os funcionários não têm de se mostrar às tropas. O seu papel é monótono e silencioso, cumprindo ordens da tutela e operando os mecanismos. A sua influência está no cargo e nos resultados.

Os media não notam que esta degradação também cai sobre eles.

Os repórteres confundem as figuras tristes com jornalismo de qualidade. Em Portugal, relatos enviesados, manipulação descarada, boatos mesquinhos, piadinhas tolas, fotografias ridículas e notícias encomendadas passam por imprensa genuína.

As dificuldades em viver neste mundo não se ficam pela vida pública. Na televisão, rádio, jornais ou auditórios é normal organizar colóquios, debates, mesas-redondas para lidar com questões de fundo.

Mas como vivemos na sociedade mediática, não se podem fazer as coisas de forma esclarecedora. Empilham-se os oradores de múltiplas orientações, proveniências e atitudes. O resultado é uma cacafonia incompreensível que, levada a sério, deixaria toda a gente mais confusa que antes. Claro que, vivendo na era da informação, o povo sai satisfeito com uma ou outra ideia simplista que um interveniente mais habilidoso explicou de forma convincente.

Vivemos num mundo de espelhos, numa fogueira de ilusões. Consideramo-nos informados e esclarecidos mas nos assuntos sérios, opções estratégicas, problemas de fundo, novas infra-estruturas, escândalos empresariais, temos de admitir que ninguém se entende.

Pior, a nossa vida é hoje agredida da forma mais violenta e boçal por aquilo que pretende divertir-nos. Não passaria pela cabeça de ninguém meter em casa os desconhecidos que encontra na rua. Mas à noite, na televisão, tudo o que vier é aceite obedientemente. Uma família pacata, num serão habitual, assiste a mais violência, crime, engano e miséria que uma aldeia medieval num ano de invasões bárbaras.

Como viver numa sociedade assim? A única forma é enfrentá-la, como a um furacão: bem escorados nos valores e critérios básicos, escolhendo com cuidado as referências que nos guiam. Existe ainda um elemento importante, que uma das referências mais decisivas da actualidade acaba de formular.

O Papa pediu há dias, no encontro quaresmal com o clero de Roma a 7 de Fevereiro, um "jejum de imagens e palavras". A sociedade mediática criou uma embriaguez de estímulos que embrulha e asfixia, manipula e embrutece. É preciso lidar com ela como com a poluição.

Na era da informação é crucial lembrar que o silêncio é de ouro.|

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

O que merece este Director-geral? O negrito é todo meu.

DN, de 6 de Fevereiro

Alípio Ribeiro "deixa cair" caso Maddie


JOSÉ MANUEL OLIVEIRA
LEE SANDERS-EPA

Ao admitir ter havido "precipitação" em constituir arguidos os pais de Madeleine McCann pelo desaparecimento da filha há nove meses na Praia da Luz, perto de Lagos, o director nacional da Polícia Judiciária (PJ), Alípio Ribeiro, estará a preparar a opinião pública para a possibilidade de não ser formulada qualquer acusação por falta de provas consistentes.

A ideia que fica das posições que o director da PJ tem assumido em declarações públicas é que "terá deixado cair" o processo, conforme admitiram ao DN fontes que têm acompanhado a investigação ao caso Maddie desde o início.

Com advogados de peso, tanto em Inglaterra como em Portugal, que já exploram as declarações de Alípio Ribeiro, e uma estrutura profissional de apoio, o casal McCann poderá dentro de meses ser mesmo ilibado do estatuto de arguido, em que está sujeito à medida de coacção mais leve prevista no Código de Processo Penal, o de Termo de Identidade e Residência, para o qual indicaram a sua residência na cidade inglesa de Rothley. Recorde-se que, depois de Alípio Ribeiro ter dito numa entrevista à Rádio Renascença e jornal Público que terá havido precipitação na constituição do casal como arguido, um dos advogados do casal Rogério Alves veio dizer que a defesa iria pedir que Kate e Gerry McCann deixassem de ser arguidos no processo, que tem como primeiro arguido o luso-britânico Robert Murat.

Possível arquivamento

O consequente arquivamento do processo poderá ser o caminho a seguir, numa perspectiva mais pessimista de fontes ligadas ao assunto contactadas pelo DN, embora a PJ no Algarve continue empenhada em desvendar o mistério, mantendo como mais forte a linha de investigação sobre a tese da morte acidental da criança inglesa no apartamento 5A do "Ocean Club", na Praia da Luz. Daí que as palavras de Alípio Ribeiro tenham provocado o mal-estar que se sente no seio da judiciária.

Se o processo for mesmo arquivado, ficará para muitos a convicção de que houve "cem por cento de pressões políticas" por parte dos ingleses. Como o DN já referiu, um sentimento de "revolta" continua instalado entre os investigadores face às recentes declarações de Alípio Ribeiro, embora o director nacional da PJ tenha tentado apaziguar os ânimos com um pedido de desculpas, procurando fazer crer ter sido mal interpretado quando falou em "precipitação" na constituição do casal McCann como arguido.

"Não sei se haverá prisões"

No entanto, as referências ao caso por Alípio Ribeiro não se ficaram por esta afirmação feita à Rádio Renascença. Já em entrevista publicada a 17/11/2007 no semanário Expresso, depois de considerar que "trabalhamos agora melhor do que no início da investigação", com "mais contenção e serenidade", o director nacional da Polícia Judiciária tinha deixado um aviso: "Não sei se haverá prisões no caso Maddie."

Uma posição contrariada por investigadores, para os quais existirão indícios que poderão levar à prisão de Kate McCann por suspeita de envolvimento na morte e ocultação do corpo da sua filha, que teria sido enterrado ou lançado em alto mar dentro de um saco.

Apesar de Alípio Ribeiro ter feito estas sucessivas declarações públicas - primeiro, que não deveria haver prisões no processo de Mad-die, depois, que teria havido precipitação na constituição do casal Mc-Cann como arguido -, a PJ nunca acreditou na versão de rapto transmitida pelos pais e estes foram constituídos arguidos em Setembro depois de os cãos ingleses terem sinalizado vários locais por onde teria passado o cadáver de Madeleine McCann, então com três anos, desde o apartamento onde estava a passar férias com os pais e os dois irmãos gémeos até à Igreja de Nossa Senhora da Luz, em direcção à praia.| Com I.D.B.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Isto é escrever em português! Aí vai (mais) uma pantufada para a ASAE

MISSÃO IMPOSSÍVEL


Vasco Graça Moura
escritor
Em 20 de Fevereiro de 1745, Alexandre de Gusmão, secretário de D. João V, advertia o desembargador Inácio da Costa Quintela de que as leis "nunca devem ser executadas com aceleração", pois "nos casos crimes sempre ameaçam mais do que na realidade mandam, devendo os ministros executores delas modificá-las em tudo o que lhes for possível, principalmente com os réus que não tiverem partes; porque o legislador é mais empenhado na conservação dos vassalos do que nos castigos da Justiça e não quer que os ministros procurem achar nas leis mais rigor do que elas impõem". E concluía: "Deste modo de proceder ordena S. Majestade se abstenha e que esta lhe sirva de aviso."

Ocorreu-me isto ao ler o que o inspector- -geral da ASAE diz numa entrevista ao Sol. Para ele, tudo são regulamentos a aplicar, com uma aceleração maquinal e implacável, e sem ter em conta os contextos concretos ou a situação do País. E tirar-nos da cauda da Europa é ser-nos indiferente que outros países não façam assim, mantenham a sua culinária tradicional e salvem as suas actividades de restauração.

Numa economia em crise, 50% dos restaurantes, regra geral pequenas empresas que asseguram um pouco por toda a parte a subsistência familiar e alguns postos de trabalho, não cumprem integralmente os regulamentos e assim, segundo o inspector-geral, têm de fechar. Mesmo que o desemprego, a desertificação, os prejuízos para o turismo e até a fome sejam males muito superiores aos decorrentes de uma série de minudências a que a ASAE franze o nariz.

Tanto zelo executório deveria ser temperado pelo bom-senso e pelas normas, nacionais e internacionais, que impõem o maior respeito pelas tradições culturais, em que se inclui a gastronomia com a imensa variedade das suas propostas e a artesanalidade necessária da sua confecção, requisito essencial da genuinidade, da tipicidade e da qualidade.

Uma coisa é reprimir infracções verificadas (falta de limpeza, mixórdia, deterioração, gato por lebre, fuga ao fisco...) e responsabilizar exemplarmente os seus autores, outra é querer preveni-las em absoluto e em abstracto, metendo insensatamente no mesmo saco tanto o que pode ser muito grave como o que não tem importância nenhuma. Uma coisa é o controlo de regras básicas de higiene e segurança alimentar, outra o vezo inquisitorial sem critério ou discriminação, em nome do politicamente correcto, da rastreabilidade e do Estado da colher de pau.

A carne fica oito a dez dias em vinha de alhos, numa receita de Lamego; a perdiz é de comer "com a mão no nariz"; a caça não sai propriamente dos matadouros; a temperatura das mãos que amassam certos queijos artesanais é determinante da sua qualidade; há vinhos que envelhecem em barricas de madeira de há muito impregnadas; a culinária caseira, só viável como actividade de subsistência se fornecer restaurantes (o que, aliás, o fisco pode sempre controlar), é um repositório riquíssimo que inevitavelmente se perderá se não puder continuar nos termos em que existe; e assim por diante...

Se tudo isso e muito mais for proibido, ou plastificado, liofilizado, higienizado até ao ridículo, nem por isso aumentará a segurança alimentar, mas em compensação dar-se-á uma destruição obstinada e sistemática do património cultural e do tecido económico.

Esse fundamentalismo de sinal totalitário tem tanto de delirante como de missão impossível. A menos que, um dia destes, a ASAE resolva mandar os clientes andarem sem sapatos nos restaurantes e criar uma inspecção para o teor dos sulfatos de peúga; verificar com uma zaragatoa, à entrada, a limpeza das mãos deles e se trazem as unhas de luto; impor uma lavagem do dinheiro em espécie e dos cartões de crédito antes de entregues para pagar a conta; proibir toalhas e guardanapos de pano nas mesas; obrigar os empregados a usarem escafandro e o cozinheiro a encapuzar-se para evitar que espirre para cima do esparguete; e, last but not least, determinar a imprescindível desinfecção do cu da galinha antes de ela pôr os ovos... |

sábado, 5 de janeiro de 2008

Este também merecia ser postado, pelas verdades sociais que contém

A luta pelo reconhecimento, de Anselmo Borges (DN de 5 JAN 2008)


Era um homem já de idade. Esperava, só, num corredor do hospital. E uma senhora aproximou-se, discreta na bondade, sorriu e perguntou-lhe como se sentia. Que ia buscar uma cadeira, se ele precisasse. E ele sentiu, no meio daquele amontoado de gente anónima, que uma alegria suave lhe percorreu a alma. Porque alguém o tinha reconhecido.

Há no mais fundo do Homem um desejo, talvez o primeiro de todos os desejos e o motor da existência: "o desejo de reconhecimento" (Ch. Pépin). Ao ser humano não lhe basta existir. Precisa de ser reconhecido. Não é verdade que um homem se faça sozinho, segundo a expressão: "Fez-se a si mesmo sozinho, a pulso." É o reconhecimento dos outros que nos faz. Como escreveu Sartre, "o outro é o mediador entre mim e mim mesmo". A imagem que temos de nós é a interiorização da imagem que os outros nos devolvem. O nosso valor, capacidades e realização dependem do olhar do outro.

O Homem é habitado por uma inquietação radical: o que vale a minha vida? Que valor tem a minha existência? Afinal, as realizações pessoais, os teres e os êxitos nada são, se não valerem para alguém. É o olhar do outro que lhes confere valor.

Por isso, há uma luta sem trégua, de vida e de morte, pelo reconhecimento. Hegel teorizou essa luta num passo célebre da Fenomenologia do Espírito: a dialéctica do senhor e do escravo, com três momentos. Quando pergunto quem sou, a resposta "eu sou eu" nada vale, pois é vazia. Tem de ser o outro a dizer-me a minha identidade. Quero, portanto, que o outro me reconheça. Mas, porque o outro quer o mesmo, trava-se a luta pelo reconhecimento. Então, o senhor é aquele que, para ser reconhecido, não hesitou em pôr a vida física em risco, pois sabe que a vida sem o reconhecimento não tem valor. O escravo é o vencido, que preferiu a vida física à liberdade reconhecida. Num momento segundo, o escravo torna-se senhor do senhor, porque, pelo trabalho, humaniza o mundo, humanizando-se a si mesmo, enquanto o senhor apenas consome o que o escravo produz. Por fim, em ordem ao reconhecimento mútuo, tem de dar-se a reconciliação como homens livres.

Karl Marx viu a força desta dialéctica, mas, percebendo que a reconciliação das liberdades não pode ser meramente interior, acentuou as condições materiais socioeconómicas da sua efectivação.

Para viver como ser humano, o Homem precisa de ter confiança em si, estima por si e respeito por si. Assim, o filósofo Axel Honneth teorizou sobre as três esferas de reconhecimento - íntima, social e jurídica - e os seus três princípios: o princípio do amor, o princípio da realização individual, o princípio da igualdade.

A confiança em si nasce da experiência do amor na esfera da intimidade. É bem sabida a importância do vínculo securizante na relação com a mãe em ordem à autoconfiança e à autonomia. Nesta esfera, estão incluídos todos os laços afectivos familiares, de amizade e amorosos.

Há um profundo abalo na auto-estima, quando alguém, porque não tem um trabalho, se vê atirado para a margem da inutilidade social, já não sentindo que contribui para o bem colectivo.

Para poder sentir respeito por si, cada um precisa de sentir os mesmos direitos que os outros, no quadro do princípio da igualdade na esfera jurídica.

Nas sociedades em que estes três princípios não são garantidos, há inevitavelmente conflitualidade. "Somos pessoas extremamente sensíveis e vulneráveis ao modo como a sociedade nos trata."

Concursos de todo o género, uns minutos de fama na televisão, jogos brutais de poder no mundo político, laboral, académico, económico-financeiro - tudo por causa do reconhecimento.

O debate religioso católico-protestante do século XVI teve na sua raiz a questão do reconhecimento. A pergunta que assaltava Lutero era precisamente a do reconhecimento em termos de justificação. Quem justifica o Homem: as obras ou a graça? Quando leu em São Paulo que Deus justifica o Homem pela fé, Lutero encontrou o sentido radical para a existência: a sua vida tinha valor para o próprio Deus. Deus reconhece o Homem e dá-lhe a eternidade.

domingo, 23 de dezembro de 2007

Prenúncio, abrenúncio

Este é um prenúncio que se confirmará daqui a um ano, pois eu gosto de perscrutar a realidade e servir de oráculo de realidades pérfidas e inúteis. A Leopoldina...esse produto acabado da sociedade de consumo, há anos que acompanha sagradamente todos os nossos televisivos Natais. Todos os anos a Leopoldina nos torra os miolos na mais inútil publicidade, com a mais colante das músicas lusas nataleiras. Este ano as mesmas entidades entram-nos em casa com a Popota, a fiel sucessora da Leopoldina. Para o ano se confirmará aquilo que suspeito há pouco...que no Natal de 2008 teremos apenas a hedionda Popota a badalar nos nossos queridos televisores. Este é o ano de transição, o próximo o da confirmação...a ver se tenho ou não razão...e a Popota já vem embebida nas iniciativas solidárias que, embora louváveis, servem indisfarçavelmente para fortalecer a campanha promotora desse boneco que eu não sei o que representa. Tudo serve, carne para canhão, chamem-lhe o que quiserem: até a solidariedade conta na hora de fazer publicidade. desejam-se muitos e bons anos à hipopótama da quadra. Afinal, a leopoldina durou bem uns 15 anos, recordam-se?

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Este texto descritivo fala sobre o que é o Natal hoje: comida, compras e o "velho vermelhusco" com o seu cortejo de decorativos

ONDE ESTÁ O MENINO?


Maria José Nogueira Pinto
jurista
O único traço rico do meu presépio é conseguido pelas figuras, réplicas dos presépios barrocos italianos, o movimento elegante dos corpos, a doçura dos traços fisionómicos, a delicadeza das cores, o conjunto organizando-se numa coreografia de expectativa, de iminência de algo grandioso e há muito anunciado.

O musgo, que hoje já não tenho à mão de semear, veio do Horto e é tão espesso que mais parece artificial. Dois tarolos de lenha tentam reproduzir, nas extremidades, uma espécie de montes e colinas, com as quais pretendo enquadrar o vale onde vou deitar o Menino. Não resisto a colocar, em equilíbrio mais que precário no ponto mais alto desta composição, um tosco castelo para lembrar Herodes. E uma fonte de barro, vários pequenos espelhos a fingir lagos e rios, e duas pontes arquitectonicamente impossíveis como contributos para uma versão mais realista daquela improvável paisagem. Contemplo a minha obra sem grande orgulho. Excepto as figuras, claro!

Os pastores têm a mão sobre os olhos, perscrutando o horizonte; a mulher junto do poço, ergue a vasilha como que suspensa num momento de revelação; um outro sopra na sua gaita de foles como se lhe coubesse o dever de dar sinal, de anunciar o acontecimento; um camponês segura a cesta dos ovos como um bem precioso destinado à homenagem e ao reconhecimento de algo muito importante; os reis do Oriente não desiludem com as suas vestes de brocado e ouro velho, a sua alta estatura, a cor da sua pele e os seus presentes reais guardados em urnas que, mesmo na pequena dimensão das figuras, se percebem de ouro revestidas de pedras de preciosas.

No sopé do meu improvisado monte, protegido pela encosta, está o Menino. Deitado nas palhas, só tem umas faixas brancas a cobrir parte da sua nudez de recém-nascido. Ao lado, a Mãe debruça-se sobre ele, o movimento do corpo descreve esse impulso de protecção materna e a cabeça inclinada deixa adivinhar um olhar de desvelo. Um pouco mais afastado, num segundo plano, aquele que lhe estava destinado, José mantém-se de pé, numa atitude protectora.

História terrível, esta, em que se cruzam profecia, desígnio e mistério, que requer a nossa atenção humilde para deslindar os sinais de aparente contradição: o medo do rei Herodes, a matança dos inocentes, a fuga de Maria e José, as portas que se fecham, o parto num estábulo, as dores, o frio, a solidão e a pobreza. Mas também a estrela que guiou os reis do Oriente e os anjos que anunciaram a boa nova aos pastores.

Onde se tinha visto, alguma vez, o Divino descer voluntariamente à condição de humano, expor-se a todas as vulnerabilidades para estar entre nós, para que não ficássemos sozinhos? Uma história de esperança e de salvação. Esperança nos homens de boa vontade e caminho de redenção, libertador do jugo a que tantos estavam condenados.

O Natal é isto mesmo. Para os que têm fé, a renovação da Encarnação, de um poderoso e salvívico acto de amor. Para os que não têm fé, o aniversário de um homem que revolucionou o seu tempo, fez face aos poderosos, exaltou os humildes, lutou pela justiça e pela liberdade e, por isso, foi crucificado. Em qualquer caso, uma imensa prova de confiança na nossa pobre condição humana, que devia servir de motivo para alguma reflexão interior, sobre cada um de nós e os outros, todos os outros que vivem, ainda hoje, na privação da esperança e da dignidade.

Há dois meses que nos incitam a "brincar ao Natal", agora definitivamente transformado num entrudo pelo marketing desenfreado da sociedade de consumo. Só vejo o velho vermelhusco, o seu trenó e as suas renas, sinos, fitas e bolas, pinheiros de todos os tamanhos, comida e presentes. Uma sociedade infantilizada parece querer fugir de qualquer espiritualidade, recusar qualquer dimensão transcendental. Onde está, então, o Menino, a razão única desta efeméride, quer se acredite quer não, na sua divindade?

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Reflexão esparsa

Vale a pena ler...


A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia, bem como Cavaco, Durão e Guterres. Agora dizemos que Sócrates não serve. E o quevier depois de Sócrates também não servirá para nada. Por isso começo a suspeitar que o problema não está no trapalhão que foi Santana Lopes ou na farsa que é o Sócrates. O problema está em nós. Nós como povo.Nós como matéria-prima de um país. Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA é a moeda sempre valorizada, tanto ou mais o que o euro. Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do queformar uma família baseada em valores e respeito aos demais. Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nos passeios onde se paga por umsó jornal E SE TIRA UM SÓ JORNAL, DEIXANDO-SE OS DEMAIS ONDE ESTÃO. Pertenço ao país onde as EMPRESAS PRIVADAS são fornecedoras particulares dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa, como se fossecorrecto, folhas de papel, lápis, canetas, clips e tudo o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos... e para eles mesmos. Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas porque conseguiram
\u003cbr\>comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde se frauda a declaração de \n\u003cbr\>\u003cbr\>IRS para não pagar ou pagar menos impostos.\u003cbr\>\u003cbr\>Pertenço a um país onde a falta de pontualidade é um hábito. Onde os\u003cbr\>\u003cbr\>directores das empresas não valorizam o capital humano. Onde há pouco\u003cbr\>interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e depois \n\u003cbr\>\u003cbr\>reclamam do governo por não limpar os esgotos.\u003cbr\>\u003cbr\>\u003cbr\>\u003cbr\>Onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros.\u003cbr\>\u003cbr\>Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que é\u003cbr\>\u003cbr\>\n"muito chato ter que ler") e não há consciência nem memória política, \u003cbr\>\u003cbr\>histórica nem económica. Onde os nossos políticos trabalham dois dias por\u003cbr\>\u003cbr\>semana para aprovar projectos e leis que só servem para caçar os pobres, \n\u003cbr\>\u003cbr\>arreliar a classe média e beneficiar a alguns.\u003cbr\>\u003cbr\>Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações médicas\u003cbr\>\u003cbr\>podem ser "compradas", sem se fazer qualquer exame. Um país onde uma\u003cbr\>\n\u003cbr\>pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um \u003cbr\>\u003cbr\>inválido, fica em pé no autocarro, enquanto a pessoa que está sentada\u003cbr\>\u003cbr\>finge que dorme para não dar-lhe o lugar. Um país no qual a prioridade de \n\u003cbr\>\u003cbr\>passagem é para o carro e não para o peão. Um país onde fazemos muitas \u003cbr\>\u003cbr\>coisas erradas, mas estamos sempre a criticar os nossos governantes.\u003cbr\>\u003cbr\>Quanto mais analiso os defeitos de Santana Lopes e de Sócrates, melhor me \n\u003cbr\>\u003cbr\>sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um guarda de \u003cbr\>\u003cbr\>trânsito para não ser multado. Quanto mais digo o quanto o Cavaco é\u003cbr\>\u003cbr\>culpado, melhor sou eu como português, apesar de que ainda hoje pela manhã \n\u003cbr\>\u003cbr\>explorei um cliente que confiava em mim, o que me ajudou a pagar algumas \u003cbr\>\u003cbr\>dívidas. Não. Não. Não. Já basta.\u003cbr\>\u003cbr\>\u003cbr\>\u003cbr\>Como "matéria-prima" de um país, temos muitas coisas boas, mas falta\u003cbr\>\u003cbr\>\nmuito para sermos os homens e as mulheres que nosso país precisa. Esses",1]
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comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde se frauda a declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos.Pertenço a um país onde a falta de pontualidade é um hábito. Onde osdirectores das empresas não valorizam o capital humano. Onde há poucointeresse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e depois reclamam do governo por não limpar os esgotos.Onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros.Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que é"muito chato ter que ler") e não há consciência nem memória política, histórica nem económica. Onde os nossos políticos trabalham dois dias porsemana para aprovar projectos e leis que só servem para caçar os pobres, arreliar a classe média e beneficiar a alguns.Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações médicaspodem ser "compradas", sem se fazer qualquer exame. Um país onde umapessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no autocarro, enquanto a pessoa que está sentadafinge que dorme para não dar-lhe o lugar. Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o peão. Um país onde fazemos muitas coisas erradas, mas estamos sempre a criticar os nossos governantes.Quanto mais analiso os defeitos de Santana Lopes e de Sócrates, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um guarda de trânsito para não ser multado. Quanto mais digo o quanto o Cavaco éculpado, melhor sou eu como português, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um cliente que confiava em mim, o que me ajudou a pagar algumas dívidas. Não. Não. Não. Já basta.Como "matéria-prima" de um país, temos muitas coisas boas, mas faltamuito para sermos os homens e as mulheres que nosso país precisa. Esses
\u003cbr\>defeitos, essa "CHICO-ESPERTERTICE PORTUGUESA" congénita, essa\u003cbr\>\u003cbr\>desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até \n\u003cbr\>\u003cbr\>converter-se em casos escandalosos na política, essa falta de qualidade \u003cbr\>\u003cbr\>humana, mais do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates, é que é real e\u003cbr\>\u003cbr\>honestamente ruim, porque todos eles são portugueses como nós, ELEITOS POR \n\u003cbr\>\u003cbr\>NÓS. Nascidos aqui, não em outra parte...\u003cbr\>\u003cbr\>Fico triste. Porque, ainda que Sócrates fosse embora hoje mesmo, o próximo \u003cbr\>\u003cbr\>que o suceder terá que continuar trabalhando com a mesma matéria prima\u003cbr\>\u003cbr\>defeituosa que, como povo, somos nós mesmos. E não poderá fazer nada... \n\u003cbr\>\u003cbr\>Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor, mas enquanto \u003cbr\>\u003cbr\>alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios\u003cbr\>\u003cbr\>que temos como povo, ninguém servirá. Nem serviu Santana, nem serviu \n\u003cbr\>\u003cbr\>Guterres, não serviu Cavaco, e nem serve Sócrates, nem servirá o que vier. \u003cbr\>\u003cbr\>Qual é a alternativa?\u003cbr\>\u003cbr\>Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a\u003cbr\>\u003cbr\>força e por meio do terror? Aqui faz falta outra coisa. \n\u003cbr\>\u003cbr\>E enquanto essa "outra coisa" não comece a surgir de baixo para cima, ou \u003cbr\>\u003cbr\>de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram,\u003cbr\>\u003cbr\>seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados....igualmente \n\u003cbr\>\u003cbr\>abusados!\u003cbr\>\u003cbr\>É muito bom ser português. Mas quando essa Portugalidade autóctone começa \u003cbr\>\u003cbr\>a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação,\u003cbr\>\u003cbr\>então tudo muda..\u003cbr\>\u003cbr\>Não esperemos acender uma vela a todos os santos, a ver se nos mandam um \n\u003cbr\>\u003cbr\>Messias.\u003cbr\>\u003cbr\>Nós temos que mudar. Um novo governante com os mesmos portugueses nada \u003cbr\>\u003cbr\>poderá fazer. Está muito claro... Somos nós que temos que mudar. Sim,\u003cbr\>\u003cbr\>creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda a nos acontecer: \n\u003cbr\>\u003cbr\>desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e \u003cbr\>\u003cbr\>francamente tolerantes com o fracasso. É a indústria da desculpa e da",1]
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defeitos, essa "CHICO-ESPERTERTICE PORTUGUESA" congénita, essadesonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até converter-se em casos escandalosos na política, essa falta de qualidade humana, mais do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates, é que é real ehonestamente ruim, porque todos eles são portugueses como nós, ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui, não em outra parte...Fico triste. Porque, ainda que Sócrates fosse embora hoje mesmo, o próximo que o suceder terá que continuar trabalhando com a mesma matéria primadefeituosa que, como povo, somos nós mesmos. E não poderá fazer nada... Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os víciosque temos como povo, ninguém servirá. Nem serviu Santana, nem serviu Guterres, não serviu Cavaco, e nem serve Sócrates, nem servirá o que vier. Qual é a alternativa?Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com aforça e por meio do terror? Aqui faz falta outra coisa. E enquanto essa "outra coisa" não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram,seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados....igualmente abusados!É muito bom ser português. Mas quando essa Portugalidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação,então tudo muda..Não esperemos acender uma vela a todos os santos, a ver se nos mandam um Messias.Nós temos que mudar. Um novo governante com os mesmos portugueses nada poderá fazer. Está muito claro... Somos nós que temos que mudar. Sim,creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda a nos acontecer: desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e francamente tolerantes com o fracasso. É a indústria da desculpa e da
\u003cbr\>estupidez. Agora, depois desta mensagem, francamente decidi procurar o \n\u003cbr\>\u003cbr\>responsável, não para castigá-lo, senão para exigir-lhe (sim, exigir-lhe) \u003cbr\>\u003cbr\>que melhore seu comportamento e que não se faça de mouco, de desentendido.\u003cbr\>\u003cbr\>Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO QUE O ENCONTRAREI QUANDO \n\u003cbr\>\u003cbr\>ME OLHAR NO ESPELHO.\u003cbr\>\u003cbr\>AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO EM OUTRO LADO. \u003cbr\>\u003cbr\>E você, o que pensa?.... MEDITE!\u003cbr\>\u003cbr\>\u003cbr\>EDUARDO PRADO COELHO\u003c/span\>\u003c/font\>\u003c/div\>\u003c/div\>\u003cbr\>\u003c/blockquote\>\u003c/blockquote\>\u003cbr\>\n\u003chr\>\nReceba as últimas notícias do Brasil e do mundo direto no seu Messenger! É GRÁTIS! \u003ca href\u003d\"http://alertas.br.msn.com/\" target\u003d\"_blank\" onclick\u003d\"return top.js.OpenExtLink(window,event,this)\"\>Assine já!\u003c/a\>\u003c/div\>\u003cbr clear\u003d\"all\"\>\n\u003cbr\>-- \u003cbr\>"Há Homens que lutam um dia, e são bons;\u003cbr\>Há Outros que lutam um ano, e são melhores;\u003cbr\>Há Aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons;\u003cbr\>Porém há Os que lutam toda a vida\u003cbr\>Estes são Os imprescindíveis"\n\u003cbr\>\u003cbr\>B. Brecht\u003cbr\>\u003cbr\>\u003ca href\u003d\"http://prasinal.blogspot.com/\" target\u003d\"_blank\" onclick\u003d\"return top.js.OpenExtLink(window,event,this)\"\>http://prasinal.blogspot.com/\u003c/a\>\u003cbr\>\u003cbr\>Poupe papel. Antes de imprimir esta mensagem de correio electrónico pense bem se tem mesmo de o fazer. Lembre-se de que há cada vez menos árvores. \n\u003cbr\>Don't waste paper. Please consider the environment before printing this mail. \n",0]
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estupidez. Agora, depois desta mensagem, francamente decidi procurar o responsável, não para castigá-lo, senão para exigir-lhe (sim, exigir-lhe) que melhore seu comportamento e que não se faça de mouco, de desentendido.Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO QUE O ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO.AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO EM OUTRO LADO. E você, o que pensa?.... MEDITE!

EDUARDO PRADO COELHO

Sim, vale a pena ler. E li.


É um texto muito interessante e difícil de engolir, enquanto português. Há várias perspectivas a considerar ou comentários a tecer.

- É um bom texto para dar o texto argumentativo: expressa as opiniões de um jornalista respeitado da nossa praça;

- os políticos podem não prestar, mas provêem do mesmo sítio. De todos nós, povo português, massa disforme, mais e menos culta, com mais e menos vícios.

- de facto, se precisássemos de um ditador, já o teríamos. Que tem sido Sócrates até ao momento, senão um grande implementador de políticas reformistas? Queiramos ou não, em Portugal é preciso uma maioria absoluta para governar. porque os políticos do centro não se entendem e vetam sempre consensos, acordos políticos. E há políticas que tem de ser feitas! Mas isso é claro. Posto isto, chamar ditador ao Sócrates é irrelevante. Mas outra coisa se impõe dizer: porque é Sócrates tão contestado (as suas políticas) por aqueles que o lá puseram? Afinal foi a tal maioria que o colocou à frente do país. Porque se queixam?? Eu começo a pensar que o Português não pensa como povo, como comunidade, mas pensa apenas naquilo que lhe convém mais. O Português não tem capela, tem capelinhas; e vai rezar à que mais lhe interessa, quando mais lhe interessa. E já agora, porquê o recurso batido e estafado à greve? Porque é que o Português só faz chinfrim quando lhe lesam a carteira. Isso demonstra um egoísmo horrível e hediondo. Um egoísmo sem saída e que é o papel químico da mentalidade do Português. A questão de mudar as mentalidades?...Mas a história das mentalidades é o que mais demora a mudar...E então em Portugal, país atávico e sem voz colectiva.

Ó, varrer o povo chaveiro e orgulhoso de carro à porta com uma saraivada de cultura, de limpeza cultural.

eu, eu ditador fiel, espalhar a educação como uma manta aquecedora que cobrisse todo um povo. Ilusões minhas decerto, ilusões de mudar Portugal.

Discutir os problemas na rádio


Eu oiço como nas rádios espanholas se discutem os maiores temas com a maior graça e seriedade conjugadas; discute-se o dia a dia e os problemas sérios e cruéis e quotidianos das pessoas; nas rádios portuguesas, uma chinfrineira musical contínua ocupa o espaço de discussão pública, ocupa o espaço destinado às palavras entaladas nas gargantas das pessoas, às seus desabafos, opiniões...Mas para isso era preciso ter radialistas à altura do pior radialista espanhol. radialistas que moderassem, conjugassem, opinassem, divertissem seriamente e orientassem as mentalidades, a mentalidade do Português e o esclarecessem. Vejo esse projecto cada vez mais acantonado. Vejo que as rádios só sabem dar música pífia, repetitiva e anestésica às pessoas, pois pertencem a grandes grupos socio-económicos que pouco ou nada querem saber das necessidades das pessoas, que pouco entendem e não querem entender os interesses nacionais. o único que lhes interessa é o do seu lucro e audiência. Como me desencanta, como me desagrada que os demais meios de comunicação sejam tão autistas nesta percepção das coisas: é como se estivessem deslocados, descentrados, sectorializados, não percebem os interesses da comunidade e não a servem nobremente. Ouça-se Carlos Paião na música "Telefonia nas ondas do Ar" e analise-se o que mudou. Pouco ou nada. É em vários casos piorou: faz-se publicidade a um livro ou a um CD não porque seja bom (e há análises - as recensões críticas - que podem ser feitas nesse sentido), mas porque a indústria que os quer vender pagou a essa rádio para fazer publicidade. E isto é também enganar o consumidor. E o consumidor precisa é de ser esclarecido, iluminado. Adorava estar em todas as esquinas de todas as ruas e em todas as lojas para dizer alarvemente: "Fraude, mentira, logro, fidelização do cliente, engano, borracheira noticiosa, publicidade enganosa, venda agressiva, extorsão, supérfluo"...

De facto, há que mudar as mentalidades e talvez os políticos mudem também.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Os malefícios da internet e a negligência das entidades competentes

Aveiro

Escola frequentada por jovens que planeavam suicídio em grupo está a funcionar normalmente
A escola EB 2,3 do Búzio, em Vale de Cambra, frequentada por alguns jovens que alegadamente estariam a ser incentivados por um site da Internet a automutilar-se até à morte, está hoje a funcionar normalmente



Apesar da aparente normalidade da situação na escola os colegas e professores daqueles alunos, contactados pela Lusa, escusaram-se a pronunciar-se sobre o caso.
Fonte do Conselho executivo da escola disse, no entanto, á Lusa que, durante a manhã, será divulgado um comunicado sobre a ocorrência.
A PSP de Aveiro anunciou terça-feira que teve conhecimento de que um grupo de menores, na casa dos 14 anos, residentes num concelho a Norte do distrito de Aveiro, foi supostamente incentivado, pelo conteúdo de um site da Internet, a praticar automutilação.
Segundo a PSP a tentativa terá acontecido parcialmente, em concreto pelo menos com um dos menores do grupo, e os objectivos finais passariam por um suicídio colectivo.
A PSP comunicou os referidos factos aos responsáveis pelos menores e às demais autoridades. Segundo notícias publicadas na imprensa de hoje, os jovens frequentavam na Internet o Orkut, uma rede social semelhante ao Hi5, ao MySpace ou ao Facebook.
Segundo o jornal Público, o jovem que alegadamente terá praticado automutilação parcial tem 14 anos e reside em Macinhata, Vale de Cambra.
Refere que o caso está já a ser acompanhado pela Comissão de Protecção de Crianças e Jovens em Risco e pelo Ministério Público.
O Público apurou que o jovem terá confidenciado, a uma amiga de Gaia, que se sentia deprimido e que estaria mesmo a pensar suicidar-se, juntamente com um outro jovem. A colega terá contado à mãe, que por sua vez, comunicou o caso à PSP de Aveiro.
O caso apanhou toda a comunidade local de surpresa, incluindo os professores da Escola Básica 2,3 de Búzio, em Vale de Cambra.

(jornal Sol)

sábado, 3 de novembro de 2007

"L'enfance", de Jacques Brel



Excertos da letra:

"Le coeur est plein, la tête est vide"

"L'enfance c'est encore le droit de rêver"

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Falar vernáculo a mentir

Metade dos portugueses considera que se fala demasiado em futebol neste país. Segundo a votação em curso neste blogue aqui à nossa direita.

Eu considero que se fala demasiado em futebol e que sofremos, enquanto sociedade, de macrocefalia futebólica. Mas nada do que eu disse é informativo, no sentido em que não é novo para ninguém. Big deal, diria um inglês!

Mas a minha reflexão vai mais fundo, vai mais dentro da brenha que é o próprio discurso através do qual o futebol se articula e se baseia para se construir enquanto espaço social de expressão das mais variadas paixões. Naquela perspectiva de Bourdieu. E que me agrada.

A minha teoria: falado até à saciedade, até ao paroxismo, o futebol e a linguagem com que este fenómeno social é construído tem de se reciclar periodicamente, sob pena de essa linguagem já não designar nada. É nesse sentido que entendo o "futebolês", uma linguagem de certa forma codificada e incompreensível - para os mais desatentos. Aquilo que se convencionou chamar de "futebolês" é a cristalização contínua de uma forma de afirmação e legitimização social, mas é sobretudo uma pele que continuamente muda e continuamente se substitui à pele velha, que são os vocábulos gastos e que já nada significam. Dizer "o guarda-redes afastou para canto" é igual a dizer "o guarda-redes defendeu". Mas dizer esta última frase é de uma banalidade insuportável para qualquer futebolómano, imagino eu. Então, o que o locutor diz (ele próprio um amante do futebol [pelos termos que usa, pelas informações que viabiliza e pela duração exagerada da notícia]) é a primeira frase ou outras que, dizendo o mesmo, tem outro sabor para quem ouve. No século XX, ninguém vai dizer de novo: "Amor é como o fogo", porque a comparação está batida por séculos e séculos de poetologia mais e menos barata. Por muito verdade que o amor seja verdadeiro fogo abrasador, passe o pleonasmo.

Porque o futebol é muito pensado em Portugal é que Portugal é hoje muitas vezes confundido ou pelo menos designado como sinónimo de futebol. (Por isso é que a nossa bandeira devia ser outra, a da Federação Portuguesa de Futebol) O erro do D. Afonso Henriques foi não ter aprendido a jogar futebol, senão ainda hoje era recordado. Saudosamente. Mas vejo que me perco no fio errático das palavras. Vou terminando...

O futebol é muito pensado e pouco jogado. É estranho que se discuta algo que é um mero desporto e não se fale das grandes questões do mundo e dos graves problemas com que Portugal se continua a debater. Entretanto, o futebol vai continuando a descascar e a deixar a pele morta pelos campos sevados de Aljubarrota. Qualquer dia, não lhe resta nada.

Ode rápida (mas intensa) para António Variações

este é um registo em estilo póstumo, como acontece com a maioria das coisas em Portugal.

António Variações é inapelavelmente um dos maiores autores da história da música portuguesa. Ouça-se o disco dos Humanos e rendam-se. Rendam-se todos os verdadeiros melómanos. Há uma música que se chama "gelado de Verão" e é tão singelamente bonita...

Desde a ternura, passando pela consciência da idade, falando sobre o amor, e abordando questões que, de universais, a todos interessam, Variações tem tudo o que faz um grande autor: boas músicas, esplêndidas letras e um temário universal...Só lhe falta uma coisa: a ampla divulgação e a o amplo e indiscutido reconhecimento. António Variações não morreu...

sábado, 20 de outubro de 2007

Na Guatemala vivem matando-se


Na Guatemala, sim; lá é que as pessoas sabem conviver, chama-se a isto "assassínios" democraticamente assistidos, ou será a democracia que está a ser assassinada? Estas notícias fazem-me pensar que nem a democracia está a salvo quando vigora a violência, o crime (organizado) e a impunidade. E que ainda há muita pobreza...E que provavelmente não há Deus que chegue para isto tudo...É este o estado do mundo e as utopias acabaram há muito.


Guatemala: 4.213 pessoas assassinadas entre Janeiro e Setembro deste ano

19 de Outubro de 2007, 23:22

Guatemala, 19 Out (Lusa) - Quatro mil duzentas e treze pessoas, entre as quais 429 mulheres e 253 menores de idade, foram assassinadas entre Janeiro e Setembro, denunciou hoje a Comissão da Mulher do parlamento guatemalteco.

As autoridades atribuem o aumento dos assassínios e da violência em geral a bandos juvenis, conhecidos por "maras", ao narcotráfico e aos grupos de crime organizado.

O relatório, apresentado pela presidente desta Comissão, Nineth Montenegro, do partido Encontro pela Guatemala, assinala que estes valores são superiores aos registados durante o mesmo período do ano passado.

Entre Janeiro e Setembro de 2006, morreram de forma violenta 3.648 homens, enquanto que no mesmo período deste ano se registaram mais 136 casos, num total de 3.784 mortes.

As mortes violentas de mulheres também aumentaram durante o mesmo período: nos primeiros nove meses de 2006, ocorreram 344 assassinatos e no mesmo período deste ano verificaram-se 429, ou seja, mais 85 casos.

Montenegro manifestou a sua preocupação pelo aumento de mortes entre crianças e jovens, mais 272 que em 2006.

Os dados do relatório, segundo a deputada, "fazem questionar a capacidade das instituições do Estado responsáveis por garantir a segurança da população e, particularmente, de sectores vulneráveis".

Acrescentou que a impunidade continua a ser um elemento promotor da violência, já que no caso das mulheres assassinadas este ano os tribunais apenas condenaram quatro vezes.

BZC.

Lusa/Fim

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Perros, os cantos permanecem silenciosos
Pelos campos, recolhendo impossíveis searas, meus braços se estendem
E sempre na hora afoita a voz se afunila, se esvai

Deve haver uma parede qualquer, um sonho invisível de tristeza, um véu límpido sobre os outros, que não descortino - porque não há as palavras certas, porque o parto é difícil.

Tópico tema assunto batido, agora sentido, quando as palavras não chegam onde não vai o coração
O ábaco silencioso dos dias a fazer as contas à vida e o recorte da realidade é perecível, ambíguo, fugaz...

terça-feira, 16 de outubro de 2007

A forma mais rápida de chegar ao céu ou toda a generosidade de Mozart



"Soave sia il vento", de "Cosí fan tute" - W. A. Mozart

A abertura de "Assim fazem todas", mas esta música só faz Mozart

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Conhecer, reconhecer Adriano Correia de Oliveira

Uma homenagem para redescobrir Adriano Correia de Oliveira


NUNO GALOPIM
Disco chega na semana que assinala os 25 anos da morte do cantor Em inícios da década de 60 foi o primeiro a levar às suas canções palavras incómodas para o regime, falando abertamente da Guerra Colonial. Foi voz para poemas, cantados, de Manuel Alegre e Manuel da Fonseca (e, pontualmente, de Fiama, Matilde Rosa Araújo ou António Gedeão). Com obra gravada entre 1960 e 1980, construiu uma das mais representativas carreiras "de intervenção" na história recente da música portuguesa. Morreu cedo, aos 40 anos, faz amanhã um quarto de século. E só talvez essa morte precoce explique porque, 25 anos depois, é voz quase esquecida, raras vezes passada na rádio, praticamente ignorada junto das mais novas gerações. Poderá um tributo fazer a diferença?

Certamente terá sido essa a ideia que levou a Movieplay (que detém o catálogo de Adriano Correia de Oliveira, tendo em 1994 reunido a sua integral numa caixa antológica de sete CD, Adriano: Obra Completa) a lançar o desafio. Henrique Amaro (da Antena 3) chamou músicos e bandas, entre os quais Ana Deus (com os Dead Combo), a reinventar Trova do Vento Que Passa, Nuno Prata (ex-Ornatos Violeta) em Fala do Homem Nascido, a fadista Raquel Tavares em Cantar para um Pastor ou Tim, vocalista dos Xutos & Pontapés, em Tejo Que Levas as Águas.

A canção como arma

Adriano Correia de Oliveira chegou a Coimbra, com 17 anos, para estudar Direito. Viva-se entre estudantes um tempo de tensão e, como descreve Manuel Alegre nas notas de Obra Completa, "um tempo de impulso e de pulsão, de mudança e mutação. (...) Ruíam tabus e mitos, levantavam--se barreiras, apertava-se a mordaça e reforçava-se a repressão, mas algo estava em marcha". Adriano dedicou algum do seu tempo a actividades nas organizações estudantis, entre as quais o Orfeão Académico, onde foi solista.

O fado de Coimbra foi a sua primeira fonte de referências, o que é documentado nos seus primeiros discos, entre 1960 e 62, que preparam terreno para uma etapa de renovação dessa canção (processo que, além de Adriano, envolveu figuras como as de José Afonso ou António Portugal).

Em 1963 gravou Trova do Vento Que Passa, sobre versos de Manuel Alegre, canção que, como mais tarde a Grândola de José Afonso, ganhou um poder emblemático. O poeta (e político) não só foi o autor mais cantado por Adriano Correia de Oliveira, como figura central de um dos três discos mais significativos da sua obra e fundamentais em qualquer discografia da música popular portuguesa: O Canto e as Armas, de 1969. Os outros títulos fundamentais de Adriano são Gente Daqui e De Agora, de 1971, com composições de José Niza, disco que expande horizontes musicais, desafio de certa maneira continuado em Que Nunca Mais (1975), já sob direcção musical de Fausto (e eleito em 1975 como disco do ano pela revista britânica Music Week). Figura ligada ao PCP, afastou-se do partido em ruptura, em 1981, levantando esse momento uma vaga de solidariedade entre diversos outros músicos de esquerda.

25 anos depois da sua morte, a voz de Adriano é memória guardada por quem viveu o seu tempo e o sentido das palavras que a sua música cantava. O tributo tenta, de certa forma, combater o esquecimento.

O prémio Nobel é bom. Mas não está isento de críticas...

ENTÃO SENHORES DO COMITÉ NOBEL PARA QUANDO ROTH OU RUSHDIE?


Leonídio Paulo Ferreira
jornalista
leonidio.ferreira@dn.pt
Confesso que nunca li nada de Doris Lessing. E por isso este Nobel da Literatura não me trouxe a secreta alegria de outros anos. Como em 2003, quando o vencedor foi J. M. Coetzee, um sul-africano que passei a admirar depois de ter lido Desgraça três anos antes. Ou, no ano passado, quando a escolha foi Orhan Pamuk, admirável tanto pela obra, como pela intervenção política, como ainda pela fantástica cidade onde nasceu, essa Istambul/Constantinopla a que dedicou o mais pessoal dos seus livros (Istanbul, Memories of a City, disponível em inglês e francês mas ainda não editado em Portugal).

Tirando o Nobel de Saramago em 1998, por causa do inevitável orgulho nacional, nunca, porém, tive tanta satisfação como com o prémio de V.S. Naipaul em 2001. Mesmo sabendo que a escolha desse britânico nascido nas Caraíbas e de origem indiana tinha muito que ver com o contexto do pós-11 de Setembro (a sua obra está cheia de críticas ao islão), deu gosto ver as livrarias a exporem nas montras Uma Casa para Mr. Biswas, que poucos meses antes se podia comprar em saldos de hipermercado por 500 escudos. Desde então, Sir Vidia ganhou leitores em Portugal, com vários livros editados, incluindo o polémico Para Além da Crença. E esse é um dos méritos do Nobel - ressuscitar autores. E também revelar nomes que as editoras não se tinham ainda dado ao trabalho de traduzir. Como o húngaro Imre Kertesz, o Nobel de 2002.

Neste século de Nobel (o primeiro foi atribuído em 1901 a Sully Prudhomme), cometeram-se também algumas injustiças e o prémio está longe de ser inquestionável. Nos primeiros anos houve sobrerrepresentação de escandinavos, depois a Guerra Fria trouxe a suspeita de motivações políticas nalgumas escolhas, mas sobretudo há nomes esquecidos por razões nunca entendidas. O irlandês James Joyce e o argentino Jorge Luís Borges são exemplos clássicos, relembrados sempre em Outubro, quando se pesa os méritos e desméritos da Academia Sueca e do seu prémio de 1,1 milhões de euros.

Em termos egoístas, há anos que espero a vitória de Philip Roth, que descobri através de Casei-me com um Comunista, mas cujos livros não políticos são ainda melhores. O americano Roth até surgia em 2007 como favorito, mas uma vez mais não aconteceu. Torço também por Salman Rushdie, que é muito mais que o autor do "blasfemo" Os Versículos Satânicos e quem tiver dúvidas que experimente ler o recente Shalimar o Palhaço. E não escondo que ficaria contente com um Nobel para o peruano Mário Vargas Llosa. Quanto a Lessing, talvez lhe dê agora uma oportunidade. Afinal, Coetzee acaba de a descrever como "uma das grandes romancistas visionárias do nosso tempo".

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

O professorado e as dezenas de milhares que o Estado formou e deixou à porta. Assumidamente.

O ano em que tudo mudou na carreira dos professores


PEDRO SOUSA TAVARES
Do Norte ao Sul do País, de uma gala internacional no Coliseu dos Recreios, iniciativa da Fenprof, às pequenas celebrações locais, os sindicatos mobilizam-se hoje para assinalar um Dia Mundial do Professor carregado de simbolismo. Talvez mais do que em qualquer outra altura no passado, 2007 caminha para ficar registado na história como o ano em que tudo mudou nesta profissão em Portugal . Para melhor ou para pior, só o futuro dirá.

De facto, as mudanças começaram em 2006, com os concursos nacionais do Ministério da Educação a colocarem pela primeira vez os professores por três anos. Mas ao que o Ministério definiu como a "estabilização" destes profissionais, seguiu--se uma nova fase, bem mais abrangente, de responsabilização.

O novo Estatuto da Carreira Docente, aprovado este ano pela tutela com a oposição dos sindicatos - e em em vias de ser regulamentado da mesma forma - mudou quase tudo na profissão. Desde logo, a própria organização da carreira.

Onde havia 10 escalões, de progressão pouco mais do que automática, passa a haver seis, em que a evolução depende de um complexo sistema de avaliação - onde cabem critérios como o desempenho dos alunos - , e em que há quotas para a ecolha dos melhores, numa escala que vai do insuficiente ao excelente.

Onde antes havia uma única profissão, passa a haver duas categorias: o professor e o professor titular. Esta última,cujo acesso também está sujeito a quotas (30%) reserva o acesso aos salários mais altos e aos cargos de coordenação. Os primeiros 32 600 "eleitos" foram já escolhidos, num concurso marcado por duras críticas da Provedoria de Justiça.

Mas o maior desafio para os professores está no início da carreira. Não apenas devido à introdução de três provas de ingresso, todas elas com a nota mínima de 14 valores, mas sobretudo pelo assumido fechar de portas a novas contratações. Uma medida justificada pela quebra do número de alunos nas últimas décadas, apesar dos sinais de retoma. Mas arriscada, por ameaçar afastar da docência muitos dos que poderiam assegurar a sua qualidade no futuro.|

Retirado do Diário de Notícias de 5 de Outubro

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Desporto nacional muito apreciado ou quando a vida é um desespero anestesiante

Homem colhido por comboio na linha da Beira

Um homem de 78 anos morreu ontem trucidado por um comboio na linha ferroviária da Beira Alta, perto de Contenças, no concelho de Mangualde, obrigando ao corte da via durante um período da tarde.

O acidente deu-se às 12.50 e obrigou ao corte da linha ferroviária até perto das 16.00, altura em que a Refer terminou os trabalhos de desobstrução da via.

O corpo da vítima foi transportado para o Instituto de Medicina Legal de Viseu onde será hoje autopsiado. A GNR está a proceder a diligências para apurar o sucedido já que de acordo com uma testemunha o homem terá "esperado de cócoras que o comboio passasse. Aparentemente parece tratar-se de suicídio", disse ao DN fonte desta força. O homem era residente em Contenças e de acordo com fonte dos bombeiros "a família esteve no local para identificar a vítima mas não adiantou pormenores". Este é o segundo acidente no género na linha da Beira Alta, depois de uma mulher ter sido colhida por um comboio na mesma linha na passada sexta-feira.| - A.A., Viseu

no DN de 28 de Setembro

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Registar e meditar


Um aluno meu de Inglês, depois da turma ter, para consolidação de conhecimentos, jogado ao bingo: "Não ganhei o jogo, mas ganhei em alegria."

sábado, 22 de setembro de 2007

Desequilíbrio

Eu quero comentar, acidular em espírito crítico as verdades estabelecidas, os dogmas invencidos; quero descortinar para lá dos factos aparentes e chegar ao númeno,
quero instabilizar a própria certeza de ter certezas
e abrir uma brecha no desconhecido mundo do desconhecimento;
vou querer desempoleirar quadros instalados, verdades válidas para hoje, poemas inconstantes;
Vou querer escalar a montanha das certezas decoradas, pôr o Outro em sobressalto, no desequilíbrio de não haver apoio.

Vou contestar na certeza de criar, inventar, popularizar um novo conhecimento
Vou libertar a crítica e assestar o espírito nas mais infames mentiras, nas mais absurdas percepções, nos preconceitos engordados pela ignorância e pela anestesia cerebral

Fui!

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Family Guy: uma série absolutamente nefasta a não perder


Há uns desenhos animados que passam na radical e que são bueda malucos e transgressores: uma delícia autêntica. Passa-se na América, mas os paralelismos são flagrantes: um filho que detesta a mãe passa o tempo ou a fugir dela (traumatizado infantil) ou a tentar matricidizá-la. Descobre que tem inclinações sado-maso e implora que a mãe o desanque e lhe pise os... Enfim, esta série é uma "maravilha fatal da nossa idade". Já a mãe é um personagem magnífica no que de desinteressante tem a humanidade para nos ofertar: assume um papel familiar negligente e tem a mesma mentalidade que o cão da casa: este fala e diverte-se com a morte dos familiares (um avô, um tio que morra). O pater familias desta família é um must: gordo quanto baste e bebedolas, faz que aceita todos os conselhos, menos aqueles que lhe permitiriam ser mais magro (nota breve: fuma crack). O filho (outro) segue-lhe as barrigadas e a filha, que vive alheia ao seio familial, não se coibe de chamar os mais nefandos nomes à mãe. A série chama-se Family Guy e é a mais completa javardeira crítica que vi à América dos dias que correm. Inclusive, para nossa delícia, há uma cena em que a Madre Teresa está com uma bruta "oudi" (O.D - overdose) e os amigos no carro, parados em frente ao hospital, só dizem: "Dump her, dump her" e vemos a mulher ser atirada para o passeio! Não é de morrer a rir?

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Frase avulsa por interstícios de não ser. Para descodificar

"Para ser crente é preciso muita criatividade. Para ser ateu basta respirar as árvores, no meio da natureza."

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Avaliação de professores


Fenprof rejeita possibilidade de acordo

A Federação Nacional dos Professores (Fenprof) rejeitou a possibilidade de estabelecer qualquer acordo com a tutela relativamente à avaliação de desempenho dos docentes

No final da segunda reunião negocial sobre esta matéria, a federação sindical considera «inultrapassável o desacordo» existente com o Ministério da Educação (ME), alegando que as quotas que condicionam as classificações constituem «um factor de distorção e perversão de qualquer modelo de avaliação».

Em Julho, o ME entregou aos sindicatos uma proposta de regulamentação do Estatuto da Carreira Docente relativamente a esta matéria, segundo a qual as notas dos alunos de cada docente e a sua comparação com os resultados médios dos estudantes da mesma escola constituem um dos factores determinantes da avaliação de desempenho dos professores.

De acordo com o documento, o processo de avaliação deverá ocorrer de dois em dois anos e abranger todos os professores, incluindo os que estão em período probatório, sendo decisivo para a progressão na carreira.

Segundo a Fenprof, o Ministério classifica a definição de quotas como «uma questão essencial, uma opção fundamental e a única forma de garantir a diferenciação», pelo que não há qualquer possibilidade de chegar a um entendimento.

«Mais cínica ainda é a consideração pelos responsáveis ministeriais de que as quotas estabelecidas de 5 por cento para o Excelente e de 20 por cento para o Muito Bom até são generosas», acusa a federação, afecta à CGTP, adiantando que «é praticamente nula» a abertura da tutela relativamente ao conteúdo da proposta apresentada, sendo «mínimas» as margens de negociação.

Em comunicado, a Fenprof lamenta ainda que o ME não tenha ainda entregue aos sindicatos as fichas de autoavaliação e de avaliação que terão de ser preenchidas pelos órgãos de gestão das escolas relativamente a cada docente, apesar de faltar apenas uma reunião negocial sobre este assunto, agendada para a próxima segunda-feira.

«Perante esta intransigência do ME em torno das regras de avaliação que quer impor, a Fenprof não encontra outra alternativa que não seja o envolvimento dos professores na luta contra mais este atentado à função docente e à sua natureza. Nesse sentido, promoverá, a partir da próxima semana, um período de esclarecimento e debate com os professores, nas escolas, em torno desta questão», refere.

A proposta da tutela prevê que cada docente terá de elaborar uma ficha de autoavaliação, especificando as notas que atribuiu aos seus alunos em cada um dos anos lectivos em análise, a diferença para os resultados que os mesmos obtiveram em exames nacionais ou provas de aferição e a comparação com a média de classificações dos estudantes do mesmo ano de escolaridade e disciplina, na sua escola.

A ficha de autoavaliação é um dos elementos do processo, a que se junta a avaliação efectuada pelos superiores hierárquicos, nomeadamente o conselho executivo e o coordenador do departamento ou do conselho de docentes.

A relação pedagógica com os alunos é outro dos factores, que será aferido pela observação de, pelo menos, três aulas dadas pelo professor avaliado, por ano escolar.

O nível de assiduidade, a participação em projectos e actividades, a frequência de acções de formação contínua e o exercício de cargos de coordenação e supervisão pedagógica são outros dos elementos da avaliação de desempenho.

Já a apreciação dos pais e encarregados de educação só poderá ser tida em conta pelos avaliadores mediante a concordância do professor, sendo promovida de acordo com o que estipular o regulamento interno das escolas.

A ponderação dada a cada factor não foi, no entanto, especificada até ao momento pelo ME, sendo definida posteriormente, num despacho próprio.

Lusa/SOL

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Alunos mais qualificados ( e mais educados) é o que se quere!

Parece que a escolaridade obrigatória será alargada até ao 12.º ano. Desta forma, os alunos serão obrigados a permanecer na escola durante mais tempo. Que medida sádica e que beleza. Estuda, idiota! estuda! Leia-se a notícia.

sábado, 8 de setembro de 2007

Post desconexo e importante a roçar a vulgaridade (é o assunto que o exige)

Premissa: Estou-me perfeitamente a borrifar para o futebol

Tese: Portugal não existe, sem o futebol, como projecto colectivo
("o que é isso? projecto colectivo?")

Constatação: O desporto do futebol ocupa, de forma anormal, uma posição macrocéfala na estrutura socio-cultural portuguesa

Dúvida: Haverá (ainda) estrutura socio-cultural portuguesa?
Dúvida: Haverá verdadeiros ideais para lá do bem-estar liberalistóide e individualista?

Desejo: que a borracheira e anestesia chamada futebol tenham menos projecção nos meios de comunicação social portugueses, que são a única forma de espaço social para o debate das ideias. Por isso, é que se diz que só existe o que passa na televisão. Por isso é que somos o país que somos.

A borracheira nefanda de conteúdos ligados ao futebol que ocupa o horário televisivo é um desnorte relativo aos deveres públicos da estação pública. Sujeitar a RTP aos interesses de lobbyes instalados é revelar uma verdadeira inépcia para uma programação televisiva equilibrada e que não se torne refém desta ou daquela capelinha. Dizer que há "futebol de interesse nacional" poderá ter alguma verdade, mas tornar este desporto na rainha do destino português (que ninguém sabe já qual foi ou será) é um caso de profundo mau-gosto e de falta de visão cultural e política. porque é a cultura que eleva os povos e os faz admirados pelos outros, não as borracheiras desportivas desequilibradas. porque, para lá do desporto, há a Vida.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Equações lusas - estilo acintoso

homem português - carro = ninguém;

homem português - futebol = maricas;

homem português + educação = milagre;

mulher portuguesa + mulheres portuguesas = galinheiro;

homem português + bar + homens portugueses = futebol (ou porrada);

homem português + política = desastre;

homem português + livros = curto-circuito;

TV + audiência = telelixo;

(homem português - telelixo) x educação = felicidade...

Portugal - Euro2004 = nada «=» Portugal = Euro2004 + nada ?


Quem quer continuar...?

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Reliquiae nostrae: Peso da Régua








(imagens tiradas da Internet, como não)


A Régua pertence ao distrito de Vila Real e é uma cidade encantadora. Parada no tempo, mas por isso mais bela e secreta. Entre a serra e o rio (Douro), Peso da Régua tem mais encanto: batida pelo Sol, a cidade espelha-se com simplicidade no plácido e majestoso Douro. As esplendorosas e verdes montanhas que a cercam, sempre cultivadas de vinha, sempre arrumadas, emolduram em retrato eterno este pequeno tesouro, entre outros, que é Peso da Régua. Mas elogiar a paisagem da Régua é elogiar pouco. Afinal todo o percurso do Douro e todas os lugares que o abraçam são simplesmente belos.