sábado, 30 de junho de 2007

O ópio do povo português. Vota!

Aqui à direita encontras uma votação em curso. Para ti, o que é o ópio do povo português? Os jornais desportivos, a televisão, o frango assado? És tu a decidir...

quarta-feira, 27 de junho de 2007

A presidência portuguesa da União Europeia

A Europa jaz, posta nos cotovelos:
De Oriente a Ocidente jaz, fitando,
E toldam-lhe românticos cabelos
Olhos gregos, lembrando.

O cotovelo esquerdo é recuado;
O direito é em ângulo disposto.
Aquele diz Itália onde é pousado;
Este diz Inglaterra onde, afastado,
A mão sustenta, em que se apoia o rosto.

Fita, com olhar sfíngico e fatal,
O Ocidente, futuro do passado.

O rosto com que fita é Portugal.


Mensagem, Fernando Pessoa

Dança daqui para fora!

O programa "Dança Comigo" já vai na terceira edição e já enjoa. Não é que o veja sempre; vejo-o às vezes e só durante alguns minutos. Mas é o que basta para me deixar, consumidor (cada vez menos assíduo) do produto televisivo, largamente insatisfeito. Ora aqui vai o rol de críticas a este programinha inócuo:

1. os dançarinos escolhidos, personalidades mais ou menos públicas, fazem o que conseguem para dançar bem - mas isso, dançar bem, raramente acontece. Por que é que somos obrigados a ver uns monos que não sabem dançar?

2. A apresentadora, conhecida de todos vós, não deixa de ter uma presença agradável. Mas é só isso que tem. Os diálogos que entabula com os dançarinos são de um vazio deplorável, assentes em banalidades e sem interesse. E dá-me a impressão que faz o programa como quem está a beber café com leite. É isso mesmo, a rapariguinha não tem interesse público algum. Privado, sim: perguntem às "Novas Gentes" e outras revistas do cor-de-rosa. Conclusão: a Catarina Furtado devia ser cada vez menos pública e mais privada.

3. O júri: Só reconhecemos a um dos constituintes do júri, Marco de Camillis, a competência para ajuizar da prestação de cada um dos concorrentes. Todos os outros que lá estão, parece-me que só lá se encontram para "encher". Mas encher o quê? Só se enche o que está vazio...Ainda estamos à espera que nos expliquem o que fazem João Baião e São José Lapa no júri. Será por apoio desinteressado ao programa?

4. Outro vazio. Este é verdadeiramente notável. Tratando-se de um concurso, de uma competição, costuma haver um elemento lá para o final... Qual será? Exacto. Acertaram. É esse mesmo. Mas, neste programa não existe. Não há qualquer prémio, uma recompensa. Para mim, é como se fosse ver uma tragédia e não morresse ninguém. (E este programa bem o merecia). Quer dizer, é de uma inconsistência!


A banalidade do júri, a banalidade da apresentadora, as danças que já vimos milhentas vezes e o vazio de uma recompensa fazem deste programa uma autêntica sensaboria. Que o povinho continua a comer, pelos vistos...

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Que giro! Fazer um filme...

Fiz este filme no seguinte site: www.dfilm.com.
Por sua vez, este link vi-o no blogue "pensamentosocasionais". Muito divertido e dão a oprtunidade de publicar a linda obra que cada um faz.


sábado, 23 de junho de 2007

Gil Vicente continua actual...

Entra Todo o Mundo, rico mercador, e faz que anda buscando alguma cousa que perdeu; e logo após, um homem, vestido como pobre. Este se chama Ninguém e diz:

Ninguém:
Que andas tu aí buscando?
Todo o Mundo:
Mil cousas ando a buscar:
delas não posso achar,
porém ando porfiando
por quão bom é porfiar.
Ninguém:
Como hás nome, cavaleiro?
Todo o Mundo:
Eu hei nome Todo o Mundo
e meu tempo todo inteiro
sempre é buscar dinheiro
e sempre nisto me fundo.
Ninguém:
Eu hei nome Ninguém,
e busco a consciência.
Belzebu:
Esta é boa experiência:
Dinato, escreve isto bem.
Dinato:
Que escreverei, companheiro?
Belzebu:
Que ninguém busca consciência.
e todo o mundo dinheiro.


Ninguém:
E agora que buscas lá?
Todo o Mundo:
Busco honra muito grande.
Ninguém:
E eu virtude, que Deus mande
que tope com ela já.
Belzebu:
Outra adição nos acude:
escreve logo aí, a fundo,
que busca honra todo o mundo
e ninguém busca virtude.


Ninguém:
Buscas outro mor bem qu'esse?
Todo o Mundo:
Busco mais quem me louvasse
tudo quanto eu fizesse.
Ninguém:
E eu quem me repreendesse
em cada cousa que errasse.
Belzebu:
Escreve mais.
Dinato:
Que tens sabido?
Belzebu:
Que quer em extremo grado
todo o mundo ser louvado,
e ninguém ser repreendido.


Ninguém:
Buscas mais, amigo meu?
Todo o Mundo:
Busco a vida a quem ma dê.
Ninguém:
A vida não sei que é,
a morte conheço eu.
Belzebu:
Escreve lá outra sorte.
Dinato:
Que sorte?
Belzebu:
Muito garrida:
Todo o mundo busca a vida
e ninguém conhece a morte.


Todo o Mundo:
E mais queria o paraíso,
sem mo ninguém estorvar.
Ninguém:
E eu ponho-me a pagar
quanto devo para isso.
Belzebu:
Escreve com muito aviso.
Dinato:
Que escreverei?
Belzebu:
Escreve
que todo o mundo quer paraíso
e ninguém paga o que deve.


Todo o Mundo:
Folgo muito d'enganar,
e mentir nasceu comigo.
Ninguém:
Eu sempre verdade digo
sem nunca me desviar.
Belzebu:
Ora escreve lá, compadre,
não sejas tu preguiçoso.
Dinato:
Quê?
Belzebu:
Que todo o mundo é mentiroso,
E ninguém diz a verdade.


Ninguém:
Que mais buscas?
Todo o Mundo:
Lisonjear.
Ninguém:
Eu sou todo desengano.
Belzebu:
Escreve, ande lá, mano.
Dinato:
Que me mandas assentar?
Belzebu:
Põe aí mui declarado,
não te fique no tinteiro:
Todo o mundo é lisonjeiro,
e ninguém desenganado.

Auto da Lusitânia (1532), de Gil Vicente

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Boas Noites...

Noite estrelada, de Van Gogh

Correcções urgentes ( o erro espalha-se com uma facilidade!!)

Há uma série de erros - orais e escritos - que os nossos meios de comunicação propagam impunemente e que precisam urgente correcção para instrução do nosso povo. Aqui vai a primeira remessa e... atenção:

"rubrica" - esta palavra é normalmente dita com acentuação na primeira sílaba, o que está errado. E está errado quer "rubrica" designe um programa, quer designe uma assinatura. Em ambas as acepções da palavra, devemos dizer "rubrica" como se fosse uma palavra grave quanto à acentuação. (Se a disséssemos como palavra esdrúxula, ela seria graficamente acentuada - o que não é confirmado por dicionário algum.)

"desapontante" - neste caso, basta dizer que se trata de um estrangeirismo (do inglês, pois então) claro e evitável, porque temos a palavra decepcionante.

"triologia" - porque se continua escrever "trilogia" de forma errada? Fico decepcionado quando tal acontece, porque o prefixo para "três" sempre foi "tri-" e não "trio-". Vá, corrijam-se lá e não voltem a pecar.

Imagens elucidativas


Pedagogia Waldorf

Esta é já uma abordagem à educação das crianças antiga, mas ainda assim relativamente revolucionária. Nasceu na Alemanha em 1919 e é mais um contributo para pensar a pedagogia em geral. Esta abordagem em particular parte das características naturais e necessidades - várias delas, idiossincráticas, isto é, individuais - das crianças para que estas se desenvolvam. E aposta na prevalência do desenvolvimento físico e sensorial sobre o cognitivo/intelectual. Não parte assim de um programa pre-determinado que se dirige da sociedade/comunidade para a criança. Ler mais...

terça-feira, 19 de junho de 2007

Pica: morituri te salutant!!

Há um programa na RTP2 destinado a um público juvenil e que vai para o ar todos os dias por volta das 18h30m e que me parece bastante interessante. É o "Pica". Desenganemo-nos com este nome pouco feliz: o Pica é um programa para jovens inteligentes, desempoeirados e culturais. O Pica é um programa que em boa hora aparece no canal público e que milita contra a ignorância em que vive boa parte da juventude portuguesa. É um programa para educar e é divertido. Não é, no entanto, um programa certinho, bem comportadinho. Ataca os seus congéneres (os que são para a mesma faixa etária) num estilo que poderá e poderia fazer escola. Ataca-os com argumentos e com cultura. O Pica é um programa sob a forma de ficção, apresentado por jovens bastante talentosos e expressivos e bonitos que sabem fazer reportagens sobre assuntos culturalmente relevantes e intelectualmente estimulantes. Sabem anular a ditadura moranguista com comportamento civicamente relevante e fazem-no como VERDADEIROS Actores. O que exalto grandemente. Viva o Pica!!
TVI acoimada (mas não foi pelos esplêndidos programas que expele diariamente)

Cantiga, partindo-se

Senhora, partem tão tristes

Meus olhos por vós, meu bem,

Que nunca tão tristes vistes

Outros nenhuns por ninguém.

Tão tristes, tão saudosos,

Tão doentes da partida,

Tão cansados, tão chorosos,

Da morte mais desejosos

Cem mil vezes que da vida.

Partem tão tristes os tristes,

Tão fora d'esperar bem,

Que nunca tão tristes vistes

Outros nenhuns por ninguém.

João Roiz de Castel-Branco (séc. XV), Cancioneiro Geral, III

quinta-feira, 14 de junho de 2007

O Estado do planeta

Ora aí está um livro cheio de futuro; uma recensão + entrevista com o autor na rádio fez com que me despertasse seriamente a atenção:

http://www.asa.pt/produtos/produto.php?id_produto=427010

terça-feira, 12 de junho de 2007

Marchas (im)populares



Ou as marchas são renovadas ou serão (mais) ignoradas


Esta é uma boa altura para reflectir um pouco sobre as tradicionais Marchas Populares de Lisboa e para expressar a minha mais sincera opinião sobre estas festas cada vez menos populares e desactualizadas. Como já deu para perceber, estas festas não me cativam, nem nunca cativaram e parece-me que sou secundado neste sentir por várias outras pessoas. Isto leva-me a acreditar que não sou eu que estou mal, mas as Marchas.
As Marchas Populares são uma ideia nascida no contexto do Estado Novo e procuravam fomentar, como já li algures, a "cultura própria de cada bairro" de Lisboa, portanto, do bairrismo, conceito caro àquele regime político. Se até meados do século XX tiveram o seu período mais vivo e mantiveram a sua autenticidade, o mesmo não aconteceu depois quando a sociedade portuguesa começou a mudar drasticamente. É notória a desadequação das Marchas Populares à realidade social de hoje, marcada pelos ventos da União Europeia e da globalização em geral. Arrisco-me a afirmar que hoje as marchas constituem um fenómeno epigonal, isto é, em lenta desagregação relativamente ao que eram. Embora se diga constituírem tradição - de Lisboa, apenas - as Marchas não cativam, não são apelativas a uma população alfacinha que mudou consideravelmente. Diga-se logo: estas marchas, de valor estético desconhecido, pararam no tempo.
As Marchas seriam verdadeiramente populares, se envolvessem profundamente a população em geral de Lisboa. E como nestas coisas de população, eu sugeriria uma sondagem sobre a popularidade das Marchas Populares. Já agora faça-se um inquérito para que se saiba de que gostam mais as pessoas nas Marchas: se dos figurinos - que ferem a vista, se da cantoria - no geral desafinada, se das danças - que o não são. Enfim, este texto pretende apenas reflectir e promover um debate - que não sei se já estará em curso, ou não - que me parece interessante e até premente e que fecunde assim as próprias práticas culturais portuguesas. Para já, a minha sentença é uma: renovem as marchas ou não as passem pela televisão, porque são sufocantemente bairristas. Outros textos críticos deixo à disposição para que se possa pensar este fenómeno:


  1. Roberto Gorjão em 16 de Junho de 2006 às 14:09 :

    “(…) As marchas lá exibiram o seu número, com uma profunda, sufocante, irredimível tristeza. O público, muito pouco, batia umas palmas desanimadas. Nem sombra de entusiasmo ou de alegria. Desafinação geral, coreografias de museu, guarda-roupa caríssimo, que a câmara, através da juntas, com certeza pagou. Numa noite, o eng. Carmona mostrou como se governa em Portugal: com prepotência, com ignorância e sem o mais leve sentido da realidade.”
    Vasco Pulido Valente, PÚBLICO, 16-6-2006

  2. Bruno Gorjão em 16 de Junho de 2006 às 16:40 :

    Agora estando a viver num bairro popular deLisboa - Campolide - cabe-me fazer o seguinte comentário:
    Efectivamente nunca fui especiialmente fã das marchas populares e concordo com a análise na parte do revivalismo um pouco bafiento e carnavalesco, já sem a autenticidade de outrora.
    Todavia, ao aí viver, coube-me notar que as populações dos bairros ainda vivem, passe o pleonasmo, o acontecimento com verdadeiro “bairrismo”. Ou seja, é das poucas coisas, tirando o futebol, que animam uma população empobrecida. E nessa medida têm o seu quê de positivo.

  3. António Daniel em 08 de Julho de 2006 às 16:56 :

    Parece-me que o grande problema é definir o que é tradição. Desde as cornadas de Barrancos que se discute até à exaustão se a tradição deve ou não continuar a ser. se a tradição corresponder a uma situação de puro arcaísmo, sem a devida evolução de acordo com os progressos das consciências, então não sou a favor da tradição. Se conseguir encontrar-se com o tempo e evoluir, então sou a favor da tradição. Quanto às marchas, segundo relatos a que tive acesso na imprensa, nem tradição é. Segundo se diz, as marchas foram uma motivação salazarenga de entreter o povo, tão bem retradas no Pátio das Cantigas. se acrescentarmos, e aí concordo, com o desatino vocal emprestado e com o foclore associado de facto estas marchas são lixo.

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Quem põe na janela a bandeira nacional por ela?


É disto que eu gosto: dar destaque a quem merece. Falo de uma desportista que aos vinte e poucos anos já (praticamente) tudo conquistou. Talvez o seu nome dispense apresentações. Talvez não dispense. O seu nome é Vanessa Fernandes e eu quero ver os portugueses a porem bandeiras à janela pelo seu esforço de ter já posto o nome de Portugal na rota do desporto mundial. Quero ver mesmo esse esforço por parte dos portugueses. Porque não creio que o Português sofra de amnésia - são já16 vitórias para Vanessa a nível internacional - e também não creio que seja nacionalista para umas coisas (basicamente para uma: o nome começa por f) e não o seja para outras. Por crer saudavelmente na isenção e substantivação do carácter nacional dos portugueses (e dos meios de comunicação, já agora), é que ainda tenho esperança que a nossa Vanessa seja ainda mais conhecida e valorizada do que já é. Vanessa, a minha bandeira já está contigo!

Espanhóis "alquevam-se"...e Portugal a ver navios


É como está exarado no título. Os espanhóis exploram o Alqueva, os portugueses hesitam...

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Para que serve o professor?

Nos tempos da internet para que serve o professor? O professor é aquele que sabe seleccionar, comparar e até rejeitar conhecimentos e informação. Umberto Eco dá umas achegas a esta questão e põe-nos de sobreaviso.

Pouca interpretação - as provas de aferição


As recentes provas de aferição dos conhecimentos de Português dos 6.º e 9.º anos andam a provocar celeuma. Precisamente apenas porque os erros ortográficos e sintácticos das respostas dos alunos não estão a ser penalizados. A justificação para tal escuda-se na necessidade de avaliar separadamente diferentes tipos de competências. Segundo os responsáveis pelas provas, a avaliação da competência da leitura compreensiva e interpretativa de textos deve vir separada da avaliação da expressão escrita. O que me parece correcto. Mas quem fez as provas não pensou bem nisso, porque fez perguntas de interpretação, às quais os alunos só podem responder escrevendo texto. No meio desta celeuma já houve quem tenha ajuízado e sugerido, a meu ver bem, os questionários interpretativos de resposta múltipla. A competência da escrita seria verificada através da tradicional composição que encerra a prova.