sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Desporto nacional muito apreciado ou quando a vida é um desespero anestesiante

Homem colhido por comboio na linha da Beira

Um homem de 78 anos morreu ontem trucidado por um comboio na linha ferroviária da Beira Alta, perto de Contenças, no concelho de Mangualde, obrigando ao corte da via durante um período da tarde.

O acidente deu-se às 12.50 e obrigou ao corte da linha ferroviária até perto das 16.00, altura em que a Refer terminou os trabalhos de desobstrução da via.

O corpo da vítima foi transportado para o Instituto de Medicina Legal de Viseu onde será hoje autopsiado. A GNR está a proceder a diligências para apurar o sucedido já que de acordo com uma testemunha o homem terá "esperado de cócoras que o comboio passasse. Aparentemente parece tratar-se de suicídio", disse ao DN fonte desta força. O homem era residente em Contenças e de acordo com fonte dos bombeiros "a família esteve no local para identificar a vítima mas não adiantou pormenores". Este é o segundo acidente no género na linha da Beira Alta, depois de uma mulher ter sido colhida por um comboio na mesma linha na passada sexta-feira.| - A.A., Viseu

no DN de 28 de Setembro

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Registar e meditar


Um aluno meu de Inglês, depois da turma ter, para consolidação de conhecimentos, jogado ao bingo: "Não ganhei o jogo, mas ganhei em alegria."

sábado, 22 de setembro de 2007

Desequilíbrio

Eu quero comentar, acidular em espírito crítico as verdades estabelecidas, os dogmas invencidos; quero descortinar para lá dos factos aparentes e chegar ao númeno,
quero instabilizar a própria certeza de ter certezas
e abrir uma brecha no desconhecido mundo do desconhecimento;
vou querer desempoleirar quadros instalados, verdades válidas para hoje, poemas inconstantes;
Vou querer escalar a montanha das certezas decoradas, pôr o Outro em sobressalto, no desequilíbrio de não haver apoio.

Vou contestar na certeza de criar, inventar, popularizar um novo conhecimento
Vou libertar a crítica e assestar o espírito nas mais infames mentiras, nas mais absurdas percepções, nos preconceitos engordados pela ignorância e pela anestesia cerebral

Fui!

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Family Guy: uma série absolutamente nefasta a não perder


Há uns desenhos animados que passam na radical e que são bueda malucos e transgressores: uma delícia autêntica. Passa-se na América, mas os paralelismos são flagrantes: um filho que detesta a mãe passa o tempo ou a fugir dela (traumatizado infantil) ou a tentar matricidizá-la. Descobre que tem inclinações sado-maso e implora que a mãe o desanque e lhe pise os... Enfim, esta série é uma "maravilha fatal da nossa idade". Já a mãe é um personagem magnífica no que de desinteressante tem a humanidade para nos ofertar: assume um papel familiar negligente e tem a mesma mentalidade que o cão da casa: este fala e diverte-se com a morte dos familiares (um avô, um tio que morra). O pater familias desta família é um must: gordo quanto baste e bebedolas, faz que aceita todos os conselhos, menos aqueles que lhe permitiriam ser mais magro (nota breve: fuma crack). O filho (outro) segue-lhe as barrigadas e a filha, que vive alheia ao seio familial, não se coibe de chamar os mais nefandos nomes à mãe. A série chama-se Family Guy e é a mais completa javardeira crítica que vi à América dos dias que correm. Inclusive, para nossa delícia, há uma cena em que a Madre Teresa está com uma bruta "oudi" (O.D - overdose) e os amigos no carro, parados em frente ao hospital, só dizem: "Dump her, dump her" e vemos a mulher ser atirada para o passeio! Não é de morrer a rir?

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Frase avulsa por interstícios de não ser. Para descodificar

"Para ser crente é preciso muita criatividade. Para ser ateu basta respirar as árvores, no meio da natureza."

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Avaliação de professores


Fenprof rejeita possibilidade de acordo

A Federação Nacional dos Professores (Fenprof) rejeitou a possibilidade de estabelecer qualquer acordo com a tutela relativamente à avaliação de desempenho dos docentes

No final da segunda reunião negocial sobre esta matéria, a federação sindical considera «inultrapassável o desacordo» existente com o Ministério da Educação (ME), alegando que as quotas que condicionam as classificações constituem «um factor de distorção e perversão de qualquer modelo de avaliação».

Em Julho, o ME entregou aos sindicatos uma proposta de regulamentação do Estatuto da Carreira Docente relativamente a esta matéria, segundo a qual as notas dos alunos de cada docente e a sua comparação com os resultados médios dos estudantes da mesma escola constituem um dos factores determinantes da avaliação de desempenho dos professores.

De acordo com o documento, o processo de avaliação deverá ocorrer de dois em dois anos e abranger todos os professores, incluindo os que estão em período probatório, sendo decisivo para a progressão na carreira.

Segundo a Fenprof, o Ministério classifica a definição de quotas como «uma questão essencial, uma opção fundamental e a única forma de garantir a diferenciação», pelo que não há qualquer possibilidade de chegar a um entendimento.

«Mais cínica ainda é a consideração pelos responsáveis ministeriais de que as quotas estabelecidas de 5 por cento para o Excelente e de 20 por cento para o Muito Bom até são generosas», acusa a federação, afecta à CGTP, adiantando que «é praticamente nula» a abertura da tutela relativamente ao conteúdo da proposta apresentada, sendo «mínimas» as margens de negociação.

Em comunicado, a Fenprof lamenta ainda que o ME não tenha ainda entregue aos sindicatos as fichas de autoavaliação e de avaliação que terão de ser preenchidas pelos órgãos de gestão das escolas relativamente a cada docente, apesar de faltar apenas uma reunião negocial sobre este assunto, agendada para a próxima segunda-feira.

«Perante esta intransigência do ME em torno das regras de avaliação que quer impor, a Fenprof não encontra outra alternativa que não seja o envolvimento dos professores na luta contra mais este atentado à função docente e à sua natureza. Nesse sentido, promoverá, a partir da próxima semana, um período de esclarecimento e debate com os professores, nas escolas, em torno desta questão», refere.

A proposta da tutela prevê que cada docente terá de elaborar uma ficha de autoavaliação, especificando as notas que atribuiu aos seus alunos em cada um dos anos lectivos em análise, a diferença para os resultados que os mesmos obtiveram em exames nacionais ou provas de aferição e a comparação com a média de classificações dos estudantes do mesmo ano de escolaridade e disciplina, na sua escola.

A ficha de autoavaliação é um dos elementos do processo, a que se junta a avaliação efectuada pelos superiores hierárquicos, nomeadamente o conselho executivo e o coordenador do departamento ou do conselho de docentes.

A relação pedagógica com os alunos é outro dos factores, que será aferido pela observação de, pelo menos, três aulas dadas pelo professor avaliado, por ano escolar.

O nível de assiduidade, a participação em projectos e actividades, a frequência de acções de formação contínua e o exercício de cargos de coordenação e supervisão pedagógica são outros dos elementos da avaliação de desempenho.

Já a apreciação dos pais e encarregados de educação só poderá ser tida em conta pelos avaliadores mediante a concordância do professor, sendo promovida de acordo com o que estipular o regulamento interno das escolas.

A ponderação dada a cada factor não foi, no entanto, especificada até ao momento pelo ME, sendo definida posteriormente, num despacho próprio.

Lusa/SOL

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Alunos mais qualificados ( e mais educados) é o que se quere!

Parece que a escolaridade obrigatória será alargada até ao 12.º ano. Desta forma, os alunos serão obrigados a permanecer na escola durante mais tempo. Que medida sádica e que beleza. Estuda, idiota! estuda! Leia-se a notícia.

sábado, 8 de setembro de 2007

Post desconexo e importante a roçar a vulgaridade (é o assunto que o exige)

Premissa: Estou-me perfeitamente a borrifar para o futebol

Tese: Portugal não existe, sem o futebol, como projecto colectivo
("o que é isso? projecto colectivo?")

Constatação: O desporto do futebol ocupa, de forma anormal, uma posição macrocéfala na estrutura socio-cultural portuguesa

Dúvida: Haverá (ainda) estrutura socio-cultural portuguesa?
Dúvida: Haverá verdadeiros ideais para lá do bem-estar liberalistóide e individualista?

Desejo: que a borracheira e anestesia chamada futebol tenham menos projecção nos meios de comunicação social portugueses, que são a única forma de espaço social para o debate das ideias. Por isso, é que se diz que só existe o que passa na televisão. Por isso é que somos o país que somos.

A borracheira nefanda de conteúdos ligados ao futebol que ocupa o horário televisivo é um desnorte relativo aos deveres públicos da estação pública. Sujeitar a RTP aos interesses de lobbyes instalados é revelar uma verdadeira inépcia para uma programação televisiva equilibrada e que não se torne refém desta ou daquela capelinha. Dizer que há "futebol de interesse nacional" poderá ter alguma verdade, mas tornar este desporto na rainha do destino português (que ninguém sabe já qual foi ou será) é um caso de profundo mau-gosto e de falta de visão cultural e política. porque é a cultura que eleva os povos e os faz admirados pelos outros, não as borracheiras desportivas desequilibradas. porque, para lá do desporto, há a Vida.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Equações lusas - estilo acintoso

homem português - carro = ninguém;

homem português - futebol = maricas;

homem português + educação = milagre;

mulher portuguesa + mulheres portuguesas = galinheiro;

homem português + bar + homens portugueses = futebol (ou porrada);

homem português + política = desastre;

homem português + livros = curto-circuito;

TV + audiência = telelixo;

(homem português - telelixo) x educação = felicidade...

Portugal - Euro2004 = nada «=» Portugal = Euro2004 + nada ?


Quem quer continuar...?

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Reliquiae nostrae: Peso da Régua








(imagens tiradas da Internet, como não)


A Régua pertence ao distrito de Vila Real e é uma cidade encantadora. Parada no tempo, mas por isso mais bela e secreta. Entre a serra e o rio (Douro), Peso da Régua tem mais encanto: batida pelo Sol, a cidade espelha-se com simplicidade no plácido e majestoso Douro. As esplendorosas e verdes montanhas que a cercam, sempre cultivadas de vinha, sempre arrumadas, emolduram em retrato eterno este pequeno tesouro, entre outros, que é Peso da Régua. Mas elogiar a paisagem da Régua é elogiar pouco. Afinal todo o percurso do Douro e todas os lugares que o abraçam são simplesmente belos.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Breve síntese da minha lavra

"Todas as análises são subjectivas:
as análises objectivas são-no à sua maneira."


Esta frase poderia ser o início de um romance, mas não é. É o modo de eu dizer que também vou encetar uma análise ao recente concurso para preenchimento de necessidades residuais de professores de 2007. Estas necessidades residuais do sistema (de ensino), como o próprio nome indica, servem para colmatar falhas mais ou menos pontuais que se verifiquem durante o triénio que dura cada "grande" concurso plurianual (o primeiro já se iniciou em 2006-2007; o segundo iniciar-se-á em 2009-2010), no qual os professores se mantêm grosso modo na mesma escola. Ora, tendo em conta aquela cronologia, este 2007 foi ano de preenchimento de necessidades residuais, ou seja, ano de reajustamentos que se podem considerar mínimos, pois como se disse ou depreende do que foi dito antes, a maioria das vagas no ensino está preenchida.

"As listas de colocação" destas “necessidades residuais” saíram no dia 31 de Agosto e põem a nu uma série de factos que no mínimo deixam bastante aborrecido um/a professor/a (mormente se de línguas e literaturas for) que se tenha formado nos anos mais recentes. No campo das línguas, apenas o grupo de recrutamento de Espanhol conseguiu horários completos (os únicos que foram disponibilizados, de resto, para serem preenchidos); as restantes línguas (desde logo o Português, mas também o Latim/Grego, o Francês e o Inglês) conseguiram a magna proeza de não disponibilizarem um só horário para necessidades residuais. Resultado: 0 professores de Português, de Latim/Grego, de Francês, e de Inglês foram colocados / contratados (neste texto falo especificamente do concurso de contratação). No grupo de recrutamento de Filosofia, o recurso a contratados foi mínimo, com cerca de 20 professores a serem chamados em todo o país, e nas restantes disciplinas poder-se-á dizer que o panorama não foi tão aflitivo como no campo das línguas. Ainda assim, e segundo a “breve síntese” desassombradamente disponibilizada pelo Ministério da Educação, 48.958 dos 55.365 professores em concurso não foram colocados (contando com os três tipos de concurso que decorreram neste 2007: DACL, Afectação e Contratação). Esses números dão bem a dimensão do excedente de profissionais do ensino que o “sistema” criou ou, ao menos, favoreceu.

Por outro lado, são vários os factores que apontam para que esse excedente de diplomados não venha a ser escoado em breve tempo. Simplesmente terá que esperar, quê?, talvez uma década para que o sistema os venha a solicitar:

- não foram disponibilizados horários incompletos pela tutela: serão assegurados por docentes em exercícios nas escolas, com vista à rentabilização dos recursos;

- o número de professores que “saem do Ensino”, que se reformam, constitui uma percentagem mínima do conjunto dos professores em exercício, pelo que tal número tem ínfimas consequências no grande excedente criado;

- não se prevê que a taxa de natalidade cresça de forma tal que seja necessário solicitar um maior número de professores; antes pelo contrário, sabemos que nascem menos crianças em Portugal;

- A declaração expressa da ministra, em entrevista à SIC no dia 3 de Setembro, de que o Ministério da Educação não necessita de mais professores (e é ela que estará no governo por uns previsíveis oito anos).


Todos estes factos e factores exarados levam à conclusão de que um gordo número de professores se vê e verá impedido, durante bons largos anos, de exercer o magistério no Ensino Público de Portugal. Aliás, a divulgação no site da DGRHE quanto ao número de diplomados não solicitados pelo sistema é disso claro sinal.

Um olhar sobre a infância e a terra natal


Eu e a aldeia - de Marc Chagall

Reproduzam-se, suas doidas! A Escola precisa de vocês!

Natalidade: Novos apoios para grávidas publicados hoje em Diário da República

5 de Setembro de 2007, 11:38

Lisboa, 05 Set (Lusa) - As grávidas portuguesas contam a partir de Outubro com novos apoios financeiros ao abrigo dos novos incentivos à família e à natalidade, cujo diploma foi hoje publicado em Diário da República.

Apesar de o diploma entrar em vigor a 01 de Outubro, o abono de família para as grávidas depois da 12º semana de gestação tem efeitos retroactivos a 01 de Setembro para as gravidezes já em curso e, assim, as mulheres passarão a ter direito a seis meses de apoio financeiro adicional.

O montante deste abono de família pré-natal é igual ao abono de família para crianças nos primeiros 12 meses de vida.

No caso do 1º escalão de rendimentos, o abono mensal será de 130,62 euros, enquanto no escalão máximo, o abono é de 32,28 euros mensais, segundo a portaria 1299 de 2003.

Têm direito a este abono todas as grávidas que apresentem prova de gravidez após as 12 semanas, mediante certificação médica, e cujo rendimento do agregado familiar seja inferior ao valor máximo do escalão de rendimentos.

O diploma hoje publicado em Diário da República consagra ainda novos apoios para os segundos e terceiros filhos.

Assim, o abono de família será duplicado no caso do segundo filho e triplicado no caso de um terceiro descendente, quando as crianças tiverem entre os 12 e os 36 meses de vida.

Segundo os escalões actuais, a maior prestação de apoio é dada às famílias cujo rendimento mensal seja inferior a 198,93 euros.

Estas medidas foram anunciadas pelo primeiro-ministro em Julho, no Parlamento, como forma de combater o decréscimo da taxa de natalidade.

Os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística revelaram que nos últimos 20 anos Portugal passou de uma média de 12,2 para 10 crianças por cada mil habitantes.

O número médio de filhos por mulher em idade fértil passou de 1,41 em 1995 para 1,36 em 2006.

ARP

Lusa/fim

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Aí estão os futuros atletas chineses...Parabéns!

Sonhos olímpicos, pesadelos reais...

Esta foto publicada no jornal O Público, tocou-me particularmente, pela "violência", pelo desrespeito dos direitos das crianças, enfim, porque também tenho um filho e gosto de vê-lo feliz. Tratam-se de crianças chinesas a treinar na Universidade de Desportos de Xangai , com o objectivo de um dia chegarem aos Jogos Olímpicos. Os meninos que aparecem nesta foto têm que ficar suspensos na barra durante cinco minutos. Esta universidade ou fábrica de atletas, onde o lema deve ser "o sucesso a qualquer preço", vangloria-se de criar atletas de alto rendimento, embora não divulgue os métodos e estratégias utilizadas. Obrigar crianças de 5 ou 6 anos a um esforço supremo, onde a brutalidade, o esforço e o sofrimento são obrigatoriamente substituídos pelos brinquedos, levou-me a ver alguns atletas e o próprio desporto com outros olhos.

Foto: Nir Elias/Reuters (07-08-2007)

Não é novidade para ninguém que a China desrespeita a liberdade, a democracia e os próprios direitos humanos. Mesmo assim parece-me mais lamentável a passividade do mundo Ocidental, que é cúmplice de todo o tipo de atrocidades praticadas naquele país. Os progressos ao nível dos direitos humanos que a China se comprometeu a rever e a defender como contrapartida proposta pelo Comité Olímpico continuam a ser uma miragem, no entanto eles vão realizar os Jogos Olímpicos.

Na verdade o desporto já não é o que era. Sem nos apercebermos, os ideais de competição saudável e de algum nacionalismo, foram substituídos por interesses políticos e macroeconómicos, em que vale tudo para subir ao pódio ...

No próximo ano, quando estiverem sentados no sofá ou na esplanada a ver os ditos jogos lembrem-se desta imagem. Lembrem-se de muitas infâncias roubadas em nome da vã glória de uma medalha e do hastear de uma bandeira. Imaginem os muitos trabalhadores que foram explorados ou "escravizados" na construção dos estádios e infra-estuturas , galácticas, onde se realizarão as Olimpíadas.


(do blogue "Sergivs Aeminiensis")

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Uma medida deste teor só revela as concepções que o Ministério tem do sistema de ensino e a confiança que nele deposita, mesmo a nível universitário..



O Estatuto da Carreira Docente exige que os futuros professores façam uma prova de ingresso na profissão. Na proposta de portaria que regulamenta o estatuto, o Governo é claro: os erros gramaticais, as más construções frásicas e uma maior dificuldade em falar em público ou expor ideias vão fechar as portas do ensino aos jovens licenciados. O documento estipula que, mesmo depois de cinco anos de universidade e o grau de mestre conferido em instituições cujos cursos são reconhecidos pelo Ministério da Ciência e Ensino Superior, os professores sejam avaliados com três exames distintos.A primeira componente do exame escrito, de duas horas, vai testar os conhecimentos de Português dos candidatos a professores. “O domínio escrito da língua portuguesa, tanto do ponto de vista da morfologia e da sintaxe, como no da clareza da exposição e organização de ideias” são essenciais para pôr à prova os docentes, a par da “capacidade de raciocínio lógico”. Este exame é comum a todos os candidatos. Na portaria, enviada aos sindicatos e que vai estar em discussão durante este mês, o Governo só não deixa claro se a avaliação também incide sobre erros ortográficos.

Numa segunda prova escrita, específica para cada área de ensino, o ministério quer “avaliar conhecimentos de ordem científicas e tecnológica” que atestem as competências dos licenciados. Numa vertente mais prática, o terceiro exame é oral e quer pôr à prova “o domínio de línguas, das ciências experimentais, das tecnologias de informação e das expressões”. Ou seja, quer-se avaliar a postura do candidato, a forma como fala, os erros linguísticos que comete e a forma como lida com as novas tecnologias.

Os sindicatos temem que, com os nervos, os candidatos cedam e percam a oportunidade de aceder à carreira. O docente é obrigado a obter um mínimo de 14 valores em cada um dos exames. Se falhar, repete a prova no ano seguinte, até um máximo de três tentativas.

AVALIAÇÃO É FEITA POR MAIS EXPERIENTES

O candidato a professor pode pedir reapreciação da prova, mas apenas pode fundamentar o recurso apoiando-se na “discordância na aplicação dos critérios de classificação” e na “existência de vício processual”. Qualquer outro tipo de fundamentações serão liminarmente excluídas. Uma questão que a portaria deixa em aberto prende-se com os requisitos exigidos aos professores que vão avaliar e corrigir os candidatos à docência. O secretário de Estado Jorge Pedreira confirmou ao CM que a escolha será “baseada na experiência”, sem contudo avançar com um número mínimo de anos de ensino. No concurso de colocação de professores deste ano ficaram de fora 45 mil dos candidatos à contratação. Os sindicatos estimam que cerca de 13 mil professores que deram aulas em 2006 não ficaram colocados.

Diana Ramos (Correio da Manhã)

Sobre Portugal

O QUE FALTA PARA SAIR DA CRISE
João César das Neves
professor universitário

naohaalmocosgratis@fcee.ucp..pt

A base da crise portuguesa não é económica, social, financeira. Estes problemas, apesar de atraírem muita atenção, são laterais ao drama central, que é cultural. Vivemos um grave problema cultural, que não é a lamentada tradição lusitana ou a triste decadência do Ocidente, mas algo muito mais prosaico: o País está desanimado e a causa é fácil de descrever.O Antigo Regime apostava tudo na identidade nacional. Propósitos do sistema e linhas de orientação eram bem claras e repetidas. Após 1974 os anos da revolução tiveram, também eles, um marcante programa cultural, se bem que turbulento e ambíguo. Depois do consenso salazarista, foram tempos de intenso debate ideológico. Nos anos 80, com a sociedade pacificada e o regime estabilizado, um novo acontecimento veio trazer outro vector dinâmico: o exigente desafio da adesão europeia empenhou todo o tecido nacional no compromisso do desenvolvimento e da eficácia. Deste modo, com Salazar, Soares e Cavaco, Portugal viveu sob motivações diversas, contraditórias até, mas sempre claras e evidentes.Assegurada a participação habitual na Europa, António Guterres ensaiou uma nova matriz. Vencida a ameaça económica, a sua proposta era um país abastado mas solidário, confortável e compassivo. Apesar das fortes diferenças, o esqueleto do modelo era o de Marcello Caetano. Após breve Primavera, falhou igualmente.No essencial o diagnóstico guterrista era correcto. Portugal já é um país rico, influente, equilibrado. A economia cresce e atrai imigrantes, a rede social é abrangente e sólida. Mas nos dias de hoje a complacência não consegue manter credibilidade, porque as expectativas ultrapassam sempre os sucessos. A Primavera guterrista tinha de durar pouco. A inversão do ciclo e os deslizes orçamentais minaram a confiança, enquanto a globalização empilhava ameaças.Perdida a orientação, começou a crise. Os governos de Barroso e Sócrates têm a profundidade cultural de uma repartição de finanças e, no meio de relativo conforto e dinamismo produtivo, Portugal vive um clima de depressão emocional. Qualquer que seja a conjuntura ouve-se a nostalgia saloia e os lamentos fadistas da desgraça nacional. O PIB até pode acelerar, mas pululam as tradicionais aves agoirentas que se deliciam em criticar a miséria incurável "deste país".Uma crise cultural é sempre reforçada por consequências éticas, e por cá esses sintomas são claros. A desmoralização nacional é também uma queda de padrões morais. Repete-se que o Estado não é pessoa de bem, enquanto a imprensa nos bombardeia com abusos e misérias. Os escândalos da Casa Pia, os casos de corrupção autárquica e futebolística juntam- -se à lentidão da Justiça e ao sentido de impunidade. Correm boatos de favores e negociatas. Até o sucesso empresarial vem inquinado pela sensação de oportunismo e injustiça. Tudo contribui para o clima geral de depressão.Entretanto, sem entender a situação e confiando na verdade do diagnóstico estatístico, a política insiste nos problemas laterais. As autoridades acreditam mesmo na ilusória viabilidade do ideal caetano-guterrista, se a economia funcionar. Enquanto apostam tudo num inglório esforço tecnológico-produtivo, vão enfraquecendo os pilares da estrutura civilizacional.Todos os pólos culturais da sociedade portuguesa estão a dar sinal de alarme. Ataca-se a família como obsoleta e ridícula. A escola passou de veículo ideológico a burocracia rotineira e reivindicante. Artes e espectáculos são minadas pelo clientelismo e tolice. Tenta-se controlar a comunicação social, a qual se rende ao populismo boçal. A perseguição surda à Igreja já levou a uma queixa inusitada da Conferência Episcopal.Assim, mesmo que as reformas funcionem e a economia melhore, o País permanece desmoralizado. Do que Portugal precisa, antes de tudo, não é crescimento e investimento, tecnologia e emprego. Precisa de algo mais precioso: uma ideia, um projecto, um objectivo que empolgue e convença. Algo em que acreditar. Portugal até tem progresso. Precisa de fé.