segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Conhecer, reconhecer Adriano Correia de Oliveira

Uma homenagem para redescobrir Adriano Correia de Oliveira


NUNO GALOPIM
Disco chega na semana que assinala os 25 anos da morte do cantor Em inícios da década de 60 foi o primeiro a levar às suas canções palavras incómodas para o regime, falando abertamente da Guerra Colonial. Foi voz para poemas, cantados, de Manuel Alegre e Manuel da Fonseca (e, pontualmente, de Fiama, Matilde Rosa Araújo ou António Gedeão). Com obra gravada entre 1960 e 1980, construiu uma das mais representativas carreiras "de intervenção" na história recente da música portuguesa. Morreu cedo, aos 40 anos, faz amanhã um quarto de século. E só talvez essa morte precoce explique porque, 25 anos depois, é voz quase esquecida, raras vezes passada na rádio, praticamente ignorada junto das mais novas gerações. Poderá um tributo fazer a diferença?

Certamente terá sido essa a ideia que levou a Movieplay (que detém o catálogo de Adriano Correia de Oliveira, tendo em 1994 reunido a sua integral numa caixa antológica de sete CD, Adriano: Obra Completa) a lançar o desafio. Henrique Amaro (da Antena 3) chamou músicos e bandas, entre os quais Ana Deus (com os Dead Combo), a reinventar Trova do Vento Que Passa, Nuno Prata (ex-Ornatos Violeta) em Fala do Homem Nascido, a fadista Raquel Tavares em Cantar para um Pastor ou Tim, vocalista dos Xutos & Pontapés, em Tejo Que Levas as Águas.

A canção como arma

Adriano Correia de Oliveira chegou a Coimbra, com 17 anos, para estudar Direito. Viva-se entre estudantes um tempo de tensão e, como descreve Manuel Alegre nas notas de Obra Completa, "um tempo de impulso e de pulsão, de mudança e mutação. (...) Ruíam tabus e mitos, levantavam--se barreiras, apertava-se a mordaça e reforçava-se a repressão, mas algo estava em marcha". Adriano dedicou algum do seu tempo a actividades nas organizações estudantis, entre as quais o Orfeão Académico, onde foi solista.

O fado de Coimbra foi a sua primeira fonte de referências, o que é documentado nos seus primeiros discos, entre 1960 e 62, que preparam terreno para uma etapa de renovação dessa canção (processo que, além de Adriano, envolveu figuras como as de José Afonso ou António Portugal).

Em 1963 gravou Trova do Vento Que Passa, sobre versos de Manuel Alegre, canção que, como mais tarde a Grândola de José Afonso, ganhou um poder emblemático. O poeta (e político) não só foi o autor mais cantado por Adriano Correia de Oliveira, como figura central de um dos três discos mais significativos da sua obra e fundamentais em qualquer discografia da música popular portuguesa: O Canto e as Armas, de 1969. Os outros títulos fundamentais de Adriano são Gente Daqui e De Agora, de 1971, com composições de José Niza, disco que expande horizontes musicais, desafio de certa maneira continuado em Que Nunca Mais (1975), já sob direcção musical de Fausto (e eleito em 1975 como disco do ano pela revista britânica Music Week). Figura ligada ao PCP, afastou-se do partido em ruptura, em 1981, levantando esse momento uma vaga de solidariedade entre diversos outros músicos de esquerda.

25 anos depois da sua morte, a voz de Adriano é memória guardada por quem viveu o seu tempo e o sentido das palavras que a sua música cantava. O tributo tenta, de certa forma, combater o esquecimento.

Sem comentários: