segunda-feira, 15 de outubro de 2007

O prémio Nobel é bom. Mas não está isento de críticas...

ENTÃO SENHORES DO COMITÉ NOBEL PARA QUANDO ROTH OU RUSHDIE?


Leonídio Paulo Ferreira
jornalista
leonidio.ferreira@dn.pt
Confesso que nunca li nada de Doris Lessing. E por isso este Nobel da Literatura não me trouxe a secreta alegria de outros anos. Como em 2003, quando o vencedor foi J. M. Coetzee, um sul-africano que passei a admirar depois de ter lido Desgraça três anos antes. Ou, no ano passado, quando a escolha foi Orhan Pamuk, admirável tanto pela obra, como pela intervenção política, como ainda pela fantástica cidade onde nasceu, essa Istambul/Constantinopla a que dedicou o mais pessoal dos seus livros (Istanbul, Memories of a City, disponível em inglês e francês mas ainda não editado em Portugal).

Tirando o Nobel de Saramago em 1998, por causa do inevitável orgulho nacional, nunca, porém, tive tanta satisfação como com o prémio de V.S. Naipaul em 2001. Mesmo sabendo que a escolha desse britânico nascido nas Caraíbas e de origem indiana tinha muito que ver com o contexto do pós-11 de Setembro (a sua obra está cheia de críticas ao islão), deu gosto ver as livrarias a exporem nas montras Uma Casa para Mr. Biswas, que poucos meses antes se podia comprar em saldos de hipermercado por 500 escudos. Desde então, Sir Vidia ganhou leitores em Portugal, com vários livros editados, incluindo o polémico Para Além da Crença. E esse é um dos méritos do Nobel - ressuscitar autores. E também revelar nomes que as editoras não se tinham ainda dado ao trabalho de traduzir. Como o húngaro Imre Kertesz, o Nobel de 2002.

Neste século de Nobel (o primeiro foi atribuído em 1901 a Sully Prudhomme), cometeram-se também algumas injustiças e o prémio está longe de ser inquestionável. Nos primeiros anos houve sobrerrepresentação de escandinavos, depois a Guerra Fria trouxe a suspeita de motivações políticas nalgumas escolhas, mas sobretudo há nomes esquecidos por razões nunca entendidas. O irlandês James Joyce e o argentino Jorge Luís Borges são exemplos clássicos, relembrados sempre em Outubro, quando se pesa os méritos e desméritos da Academia Sueca e do seu prémio de 1,1 milhões de euros.

Em termos egoístas, há anos que espero a vitória de Philip Roth, que descobri através de Casei-me com um Comunista, mas cujos livros não políticos são ainda melhores. O americano Roth até surgia em 2007 como favorito, mas uma vez mais não aconteceu. Torço também por Salman Rushdie, que é muito mais que o autor do "blasfemo" Os Versículos Satânicos e quem tiver dúvidas que experimente ler o recente Shalimar o Palhaço. E não escondo que ficaria contente com um Nobel para o peruano Mário Vargas Llosa. Quanto a Lessing, talvez lhe dê agora uma oportunidade. Afinal, Coetzee acaba de a descrever como "uma das grandes romancistas visionárias do nosso tempo".

2 comentários:

Anónimo disse...

E porque não o inenarrável Lobo Antunes com os seus manuais de inquisidor.


http://www.carpinteira.blogspot.com

João Santos disse...

Porque não? Fazia-se assim justiça a uma grande literatura como a nossa. Há que manter a esperança em Lobo Antunes..